Por Gustavo Barreto, 2 de maio de 2004
Em quase todos os debates que participo, sinto falta de pessoas que analisem prioritariamente as idéias propostas. Prender-se de forma excessiva a correntes filosóficas e nomes me parece perder tempo neste momento tão intenso de nossa história.
A análise de idéias é mais importante, até porque uma pessoa vale por suas idéias e pela consistência das mesmas (se não fosse pela consistência os demagogos anulariam suas contradições, como é comum acontecer). Pode-se, portanto, analisar com legitimidade e seriedade uma pessoa, desde que o eixo da análise seja a estrutura de pensamento dela.
Apesar disso, imagina se fôssemos analisar pessoa por pessoa. Para cada interlocutor, precisaríamos de um relatório prévio sobre as ações, escritos e manifestações do mesmo.
É evidente que se tal nome tiver, por exemplo, ordenado a morte de 100 mil cambojenses, a história é outra. Neste caso podemos destacar alguns nomes, mesmo que, ainda assim, seja equivocado personalizar a História — um processo de simplificação que visa apenas tornar conveniente o passado para quem, hoje, está em uma posição-chave.
Temos que dizer: óquei, você discorda dele. Por que? Qual é a opção? Qual é a alternativa? Ou você está criticando apenas para colocar o vazio no lugar? Qual a sua proposta?
Política e vácuo não funcionam. Quando a política se esvazia de idéias, brechas perigosas são abertas, a ponto de governos racistas e extremistas acabarem tomando tal espaço e provocando verdadeiros desastres reais e/ou simbólicos em nossas sociedades.
Até quando vamos sobrevalorizar pessoas e coisas, em detrimento do poder que de fato estrutura os seres humanos?