AS MUDAS ROMPERAM O SILÊNCIO – Mulheres da Via Campesina

O processo de criminalização dos movimentos sociais é, a cada dia que passa, uma realidade concreta em boa parte da mídia brasileira. Há uma escalada de adjetivos e associações no ar, sendo a mais recente delas a tentativa de associar organizações como o MST e a Via Campesina a quadrilhas de foras-da-lei e, mesmo, ao terrorismo. A ação das mulheres da Via Campesina no horto da empresa Aracruz Celulose, no dia 8 de março, funcionou como uma espécie de senha para o lançamento de uma nova e pesada ofensiva nesta direção.

No dia do aniversário de Eldorado de Carajás, o Jornal Nacional, da Rede Globo, forneceu um exemplo paradigmático dessa ofensiva. Apresentado logo no primeiro bloco, o caso de Carajás rapidamente evoluiu para as ações do MST no dia, para o caso Aracruz e, depois, para o noticiário policial, encerrando com uma matéria sobre um atentado terrorista que ocorreu naquele dia. Esse fenômeno é mais claro ainda no RS, onde ocorreu a polêmica ação na Aracruz. O Grupo RBS lançou uma verdadeira cruzada midiática, apresentando o MST e a Via Campesina como uma espécie de braço da Al Qaeda no campo brasileiro. Em sua edição de terça-feira (25), o jornal Zero Hora diz em sua manchete: “Promotores tentam rastrear dinheiro do Exterior para o MST”. “A quebra de sigilo objetiva investigar se há financiamento internacional irregular ou desvio de finalidade de verbas públicas”, acrescenta.

A Via Campesina divulgou uma nota, no final da tarde de terça (25), contestando as denúncias feitas pelo Ministério Público e denunciando o processo de criminalização. Repetindo o que o coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, havia dito na segunda, a nota sustenta que as denúncias “visam responder à pressão dos meios de comunicação, patrocinados pela Aracruz, em especial o Grupo RBS”. A nota afirma: “A denúncia apresentada pelo Ministério Público é baseada em suposições do promotor e não tem base jurídica. São denúncias infundadas que visam a responder à pressão dos meios de comunicação, patrocinados pela Aracruz, em especial o Grupo RBS, que têm agido sistematicamente de modo a criminalizar e a perseguir os movimentos sociais do Rio Grande do Sul. Em juízo, com tranqüilidade, a Via Campesina irá provar o descabimento das denúncias e espera que o Poder Judiciário se paute mais pelo interesse público do que pela pressão das grandes empresas e da grande imprensa”.

(Agência Carta Maior)