Por Mário Magalhães
A morte do coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, aos 83 anos, consagra a impunidade no Brasil.
Na condição de major do Exército Brasileiro, Ustra comandou de 1970 a 1974 o Destacamento de Operações de Informações do II Exército, em São Paulo.
O DOI chefiado por Ustra (não confundir com Codi) foi o principal centro urbano dedicado a tortura, morte e desaparecimento de oposicionistas durante a ditadura que vigorou de 1964 a 1985.
Ninguém torturou e matou tanto quanto a turma do DOI de Ustra.
Lá os agentes do Estado, violando até as leis da ditadura, cometiam toda sorte de barbaridades contra presos políticos, incluindo o estupro de moças e o empalamento de moços.
Há incontáveis depoimentos e provas de que Ustra não só ordenou como participou de sessões de tortura.
O DOI era um campo de concentração tipicamente nazista.
Se não matava seres humanos em câmaras de gás, tirava-lhes a vida com tamanha violência que fragmentos do cérebro ficavam grudados às paredes.
A morte de Ustra é uma triste notícia para as consciências democráticas.
Porque o comandante de campo de concentração escapou de ser punido pela Justiça.
Ainda chegará o dia em que o Brasil, em passo civilizatório, não eternizará a impunidade dos autores de crimes imprescritíveis, de abusos contra a humanidade.
Ustra, contudo, não estará mais aqui para ser julgado e condenado.
O coronel retrata a impunidade maldita que estimula novas gerações a repetirem o que de mais terrível foi feito pelas do passado.
É como o nazista matador que escapou dos tribunais.
O torturador e assassino, covarde a soldo do Estado, foi embora sem pagar pelo que fez.
Triste Brasil.