Por Roberto López Sánchez, historiador, outubro de 2004
Tradução do Círculo Bolivariano de São Paulo
A estátua de Cristóvão Colombo, situada na avenida do mesmo nome na cidade de Caracas, foi derrubada. É um ato simbólico que reivindica os desejos de justiça dos povos indígenas de todo o continente americano. Pode-se pensar que a derrubada da estátua não terá maiores repercussões, e alguns a qualificarão de ato de vandalismo. Mas a história expressa como os povos que iniciam processos de transformação social derrubam e destróem os símbolos dos regimes infames contra os quais se levantaram.
Os Comuneiros de Paris, durante a primeira revolução operária do mundo, derrubaram a estátua de Napoleão, tal como Karl Marx havia previsto 20 anos antes. Mais recentemente, o povo russo derrubou as estátuas de Lênin ao se insurgir contra a ditadura partidista que se fazia chamar de comunista. Aqui na Venezuela, as propriedades dos ditadores Juan Vicente Gómez e Marcos Pérez Jiménez foram invadidas e saqueadas quando morreu o primeiro e o segundo foi derrubado. Em outro sentido, mas buscando igual significado, as forças de ocupação estadunidenses derrubaram a estátua do ditador Hussein no Iraque, não sem antes colocar uma bandeira gringa no seu rosto.
Colombo, embora apareça sempre nos retratos com cara de boa gente, deu início a um processo de destruição cultural, aniquilação física e saque econômico que até esse momento a humanidade jamais tinha presenciado. Grandes civilizações, como os Impérios Asteca e Inca, foram apagadas do mapa, todas as suas riquezas saqueadas, e seus povos escravizados. Segundo dados do Arquivo de Sevilha, só entre 1503 e 1660 chegaram a Sanlúcar de Barrameda (Espanha) 185 toneladas de ouro e 16 mil toneladas de prata provenientes das colônias espanholas na América. Esse dado é uma simples mostra das dimensões da expropriação à qual foram submetidos os espanhóis pelo império espanhol.
Aqui mesmo na Venezuela, os invasores espanhóis não somente liquidaram os valentes chefes indígenas que, como Guaicaipuro, resistiram por anos à penetração estrangeira em nossos territórios. Liquidaram a etnia completa. Hoje em dia nem sequer podemos saber com certeza a raiz linguística do grupo étnico ao qual Guaicaipuro pertencia, pois há séculos foi exterminado todo seu povo. Não ficaram rastros dos índios Caracas nem dos Teques, dos Guaiqueries, dos Caquetios, dos Jiraharas e de dezenas de grupos étnicos que povoaram nosso território no momento em que chegaram os espanhóis, que tinham vivido aqui durante milênios, em harmonia com a natureza, praticando uma agricultura que permitia a conservação ambiental dessa formosa terra venezuelana.
É uma reação contra um símbolo do genocídio cometido em terras americanas. Colombo simboliza os que cortaram em pedaços o corpo decapitado do rebelde Túpac Amaru. Os que praticaram a atroz condenação ao empalamento contra os heróicos caciques que defendiam suas terras e seu modo de vida.
O símbolo da dominação ocidental sobre a América espanhola foi derrubado. Vivemos tempos de mudanças, tempos de revolução. Os povos indígenas da Venezuela e de toda América Latina exigem uma verdadeira justiça. Não atos bonitos onde se apresentam os indígenas como se fossem peças de museu, enquanto que os direitos constitucionais a suas terras continuam sem ser exercidos. Uma revolução vai até a raiz das coisas, não fica em meros discursos grandiloqüentes. Esperemos que isso seja o início de conquistas concretas e palpáveis para os povos indígenas da Venezuela.