(Camila Agustini)
Documentário de Stela Grisotti e Rudi Böhm resgata a trajetória de um dos mais combativos defensores da democracia na história brasileira.
Setenta anos de luta. Poucas pessoas podem se gabar de ter dedicado toda uma vida aos seus ideais de justiça, liberdade e democracia como Apolônio de Carvalho, hoje com 91 anos. A convicção na humanidade e em um futuro melhor levou Apolônio a participar das mais importantes batalhas políticas desse século.
Em meados dos anos 30, ainda jovem, ele foi preso após a Insurreição Comunista. Na prisão, conviveu com personalidades como Olga Benário e Graciliano Ramos. Ao reconquistar a sua liberdade, Apolônio ingressou no Partido Comunista e decidiu deixar sua terra, amigos e família para tomar parte na Guerra Civil Espanhola, integrando as Brigadas Internacionais. Daqueles tempos, ele guarda exemplos da solidariedade humana que lhe deram forças para continuar caminhando.
Na seqüência, Apolônio se junta à Resistência Francesa na luta contra o avanço das tropas nazistas germânicas. Anos mais tarde, o governo francês reconhece a importância de suas atividades e o condecora com uma “medalha de honra ao mérito”.
Em 1947, Apolônio retorna ao Brasil a pedido de Cândido Portinari, enviado pelo Partido Comunista, cujas atividades naquele momento estavam “legalizadas” no país. A tranqüilidade dura pouco e Apolônio e sua família tiveram que viver clandestinamente, mudando de residência e se escondendo. Nos anos 50, Apolônio parte para antiga União Soviética para estudar o regime socialista. Lá, ele constata uma realidade pouco democrática que o leva a desacreditar nos regimes comunistas e a abandonar seu partido.
Apolônio volta ao Brasil e desfruta, pela primeira vez, de um período de paz que irá durar até o Golpe de 64, quando ele retoma suas atividades ditas “subversivas”. Apolônio e seus dois filhos, também militantes, são presos.
Após nove anos de exílio na Argélia, Apolônio retorna ao país com a promulgação da Lei da Anistia. Em sua terra natal, participa da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). É sua a ficha de inscrição número 1 no partido.
Uma longa trajetória de lutas. Não por acaso, os diretores Stela Grisotti e Rudi Böhm escolheram a vida desse homem incansável para o seu documentário “Vale a Pena Sonhar”, exibido na última terça-feira (02/12), no Cinesesc, em São Paulo.
Contando com um vasto arquivo de imagens históricas, “Vale a Pena Sonhar” consegue trazer para as telas momentos fundamentais da história contemporânea sem ser excessivamente didático ou cansativo. E, de quebra, ainda aproxima os discursos de outrora da militância engajada dos dias de hoje presente nas manifestações antiglobalização, antiguerra e nas edições do Fórum Social Mundial.
O filme, co-produzido pela Superfilmes e pela TV Cultura, parte das palavras de Apolônio para dar seu recado: “Quem passa pela vida e não tem um ideal pelo qual possa lutar e queira lutar está sujeito à pecha de mediocridade porque não vive, passa apenas pela vida”.