Por Mariana Pitasse – Brasil de Fato RJ
O modo como a Rede Globo está noticiando os últimos acontecimentos políticos tem repercutido de várias formas pelo país. Na última quarta-feira (16 de março), uma edição estendida do Jornal Nacional foi dedicada apenas a interpretar gravações sigilosas de Lula e da presidente Dilma, parte de investigações da Polícia Federal liberadas diretamente pelo juiz federal Sérgio Moro. Nas redes sociais, o Jornal Nacional foi um dos assuntos mais comentados, principalmente no Twitter, em que a maioria das postagens fazia críticas à “cobertura manipuladora promovida pela emissora”. Para Sylvia Moretzsohn, professora do Instituto de Artes e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense (UFF), está crescendo a consciência de que existe uma manipulação de informações articulada pela Rede Globo.
Brasil de Fato – Você acredita que o jornalismo produzido pela Globo está trabalhando como partido político?
Sylvia Moretzsohn – Há muito tempo. A ação do Jornal Nacional é muito clara. Não é à toa que a Dilma tenha tido tanto espaço nas últimas edições, porque sempre que ela aparece é uma chamada para as pessoas baterem panela. Com a internet e whatsapp, as pessoas se comunicam muito rápido. Então, toda vez que o Lula e a Dilma entram no ar é a mesma coisa. Vão criando uma disposição, um efeito cascata. É claro que a Globo não está mais preocupada em fingir.
Brasil de Fato – Como isso funciona na prática?
Sobre as gravações grampeadas de Lula e Dilma, por exemplo, o Jornal Nacional anunciou como se os pilares da república estivessem caindo, mas eu sinceramente não vi nada naquela gravação em que os dois conversam. A primeira coisa que me veio à cabeça foi: grampearam o Palácio do Planalto. Essa é a notícia. Só que a Globo ficou martelando a noite toda sobre interpretações das gravações, sem apuração. Não questionaram o fato de um juiz federal quebrar o sigilo e divulgar dessa forma para a imprensa.
Brasil de Fato – Na internet, houve uma grande repercussão negativa sobre a cobertura da Globo. Como você acredita que a população em geral interpreta o que a emissora está fazendo?
Está crescendo uma certa consciência de que existe uma manipulação. Mas eu acho que ainda é uma minoria que protesta contra o oligopólio da Globo e sobre o conteúdo de suas transmissões. Acredito que se houvesse consciência, as pessoas não atenderiam as chamadas para bater panela.
Brasil de Fato – Qual a principal consequência dessa ação da emissora?
Com certeza criar condições para um golpe de Estado. Querem fazer com que a opinião pública se manifeste a favor da derrubada de Dilma, mas sempre em nome de uma causa nobre, que é o combate à corrupção. Existem pessoas que vão às ruas pedir intervenção militar, mas ninguém vai à rua pedir pela corrupção. Eles colocam como se estivessem defendendo o Brasil e a democracia, mas a marca da corrupção só está em um partido (PT), que hoje representa toda a esquerda brasileira.
Brasil de Fato – O que a população pode fazer diante disso?
Denunciar, se manifestar contra isso. Precisamos debater sobre a democratização da comunicação, é mais do que urgente uma legislação para os meios de comunicação no Brasil. A Globo não pode continuar imperando com tanto poder sobre uma concessão pública. A mídia não tem o papel de produzir palpites, mas sim de informar.