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Waldemar era um jovem pedreiro em Sertãozinho. Aos 17 anos, quando sua mãe ficou viúva, era o arrimo da família. Sua primeira opção política foi a militância na Juventude Operária Católica (JOC). Boa parte da sua formação política inicial se deveu às influências do então promotor, Plínio de Arruda Sampaio, que se tornaria seu amigo de vida inteira. O filme Caminhos cruzados mostra a trajetória das vidas de Marieta e Plínio e de Célia e Waldemar.

Veio para São Paulo assumir a coordenação regional da JOC em substituição a João Batista Cândido. Na greve de Osasco de 1968, Cândido era o Secretário Geral do Sindicato e Presidente da Comissão de Fábrica da COBRASMA, a maior empresa da cidade e epicentro da greve.

O metalúrgico Waldemar, antes de 64, já com formação socialista e sem deixar de ser cristão, faz oposição crítica à diretoria do PCB no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Havia um grupo de origem católica de direita formado nos Círculos Operários Católicos. Desse grupo do sindicalismo conservador e anticomunista sairão alguns dos principais quadros que se tornarão interventores nos sindicatos. Em 1965, os interventores no sindicato fazem eleição de chapa única. Em 1967, Waldemar encabeça a primeira chapa de oposição. Voltará a ser candidato em 1972 e em 1981 em eleições truncadas, fraudadas, como da tradição do sindicalismo varguista controlado por pelegos.

Em 1974, será preso numa reunião da coordenação da OSM-SP pela equipe do Delegado Fleury na Igreja São João do Brás, junto com Vito Giannotti, Elias Stein, Raimundinho, Carlúcio Castanha e Toninho Salles. Serão presos dezenas de militantes e operários da Oposição, que ficarão pendurados em processos e “listas negras”.

Waldemar conviveu a vida inteira com as diferentes organizações de esquerda clandestinas. Causava estranheza nos parceiros europeus, aonde os socialistas e católicos não se bicam e disputam a influência no movimento dos trabalhadores. Waldemar sempre se disse cristão e socialista.
Em 1970, com a chegada do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, Waldemar será o principal mentor da Pastoral Operária. Terá a ajuda de alguns bispos nomeados no processo de descentralização da Igreja por Dom Paulo;alguns como Dom Angelico serão como irmãos na relação com a família Rossi.

Na travessia da secura após o AI-5, a OSMSP, escaldada pelas ondas repressivas opta pelo “exílio nas fábricas”. Se tornará uma experiência única dentro da concepção de Frente de Trabalhadores. Era tão grande a tarefa de enfrentar a mancomunação da FIESP com os militares e pelegos incrustados nos Sindicatos, que a OSMSP se tornou um espaço único de convivência democrática.
São centenas de militantes, somados a ex-presos políticos que saíam das cadeias buscando uma opção mais próxima dos trabalhadores e a aproximação com operários jovens que vão se formando nessa escola. Em 1978, com a eclosão das greves, a bandeira das comissões de fábrica se tornará a marca da Oposição. Ela é assumida por trabalhadores de mais de 200 empresas paralisadas, onde os operários só suportavam a presença da diretoria do sindicato para firmar juridicamente os acordos de reconhecimento das Comissões.

A eleição de 78, onde a Oposição chega com impulso renovador das organizações de fábricas, será fraudada e anulada. O Ministro Arnaldo Pietro simplesmente dá posse à diretoria pelega. Porém, a partir do enfrentamento pela fiscalização das eleições, haverá uma mudança no padrão de eleições sindicais e uma grande onda por todo o Brasil de disputa para retomar os sindicatos. O filme Braços cruzados, máquinas paradas retrata esse momento e mostra também a emergência da luta operária, junto com a irrupção do movimento popular, particularmente do Movimento Custo de Vida.
As oposições sindicais que se espalham pelo Brasil serão uma das vertentes fundadoras da CUT. Os valores assumidos no Estatuto da CUT – independência de classe, internacionalismo, organização no local de trabalho, autonomia em relação aos partidos, independência em relação ao Estado – serão como um atestado da matriz ideológica, da influência desse movimento construído por baixo e que contaminará positivamente o “novo sindicalismo”. Depois, se as coisas se perderam, se a estrutura sindical não foi alterada, se o sindicalismo foi abduzido pela institucionalidade, é outro assunto, para outro momento.

Waldemar foi um desses incríveis quadros construídos na luta operária e, como já se disse de um grande revolucionário, “feito de uma peça só”. Esses incorruptíveis operários mantiveram, como Waldemar, uma incrível disposição física, alegria de viver e capacidade de receber seus interlocutores mais jovens, muitas vezes menos animados que eles. As ideias que Waldemar e seus camaradas defenderam exigem que mantenhamos, mesmo nesse momento de tristeza pela perda do companheiro, nossas bandeiras ao alto!

Projeto Memória da OSM-SP