[Por Laio Rocha – Mídia Ninja – 27.03.2017]
Às 10 horas da manhã a carne já começava a assar na Ocupação Povo Sem Medo do Capão, do MTST, no bairro do Capão Redondo, periferia de São Paulo. A fumaça que tomava o topo do morro em que o acampamento aportou há cinco meses, era sinal de festa. O povo entendeu e logo os barracos estavam lotados.
O motivo da comemoração foi a abertura de três novos empreendimentos da ocupação: uma rádio, um salão de beleza e um bazar. Os barracões inaugurados ficam localizados na entrada do morro. Esses são os maiores do acampamento e tiveram uma força tarefa especial para a sua construção, que aconteceu em cerca de uma semana cada um.
Esse que é a mais recente ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto na capital de São Paulo, contêm 1.500 famílias, de acordo com os números da coordenação.
“Atenção, muita atenção”
As caixas de som espalhadas em postes pelas esquinas das vielas estreitas de terra batida e seca, soavam sob o repertório de reggae, rap e sertanejo se alternando com informes do Movimento, entrevistas e outras informações da região.
Comandada pelo radialista Nildo, responsável pela programação e pelas atrações musicais da rádio, que recebeu o nome Rádio Libertadora Povo Sem Medo, em homenagem a Carlos Marighella, que em 1969 controlou a Rádio Nacional, filiada da Rede Globo, e fez uma transmissão de um manifesto contra a ditadura militar.
Há mais de 20 anos na luta pela comunicação comunitária, Nildo trabalhou em rádios e jornais regionais, e é responsável, junto com o coordenador da ocupação Liomar, pela concepção do projeto do “informativo sonoro”, como conceituou a iniciativa. A estrutura do barracão foi construída em três dias por quatro homens. O grupo utilizou pallets para fortalecer a base, isolou acusticamente a ilha de gravação com caixas de ovos nas laterais e criaram uma janela de vidro para que o público possa acompanhar as transmissões.
“A princípio, vamos instalar caixas de som para transmissões nas nove cozinhas da Ocupação, porque são os locais em que o povo geralmente se reúne. A ideia é principalmente levar para as pessoas da comunidade notícias que não chegam normalmente através da mídia tradicional”, afirmou o locutor da rádio Libertadora.
Um dos exemplos de informações invisibilizadas pela mídia, segundo Nildo, foi da ocupação da Av. Paulista, em que o Movimento permaneceu acampado durante 22 dias, sem que a imprensa desse repercussão. O levante que reivindicava a retomada na construção de casas populares do Programa Minha Casa Minha Vida, conseguiu emplacar uma negociação com o governo, que deve rever os números das contratações de moradias.
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