( Enzo del Buono )
Esta semana os servidores do Judiciário Federal fizeram paralisações, em quase todo o país, reivindicando o encaminhamento dos Planos de Cargos e Salários para votação no plenário da Câmara dos Deputados e a sua aprovação, o que minimizaria as perdas salariais sofridas no Judiciário Federal e Ministério Público da União. O texto abaixo é de Enzo del Buono, poeta e servidor da JF/GO, que expõe o seu ponto de vista sobre a falta de adesão às mobilizações.
Sucata
O pátio vazio da 19 estava meio sombrio. A ausência maciça de servidores meio que oprimia, meio que “aerava”, rarefazia o ar. Significa o que?
Ausência de consciência? De vontade? O que? Era falta de manifestação ou excesso? Excesso, eu acho. Plural majestático é pra autoridade. Servo, ou servidor, como queiram, tem que usar primeira pessoa mesmo.
Por que tantos, tantos, não desceram? Talvez por acharem ser difícil descer mais. Sucatas cansadas. Atochadas de tanto papel. De todos os tipos, menos moeda.
O que nós percebemos, digo, eu percebo, no pátio
de entrada da emérita JF/GO etc. é um bando de sucatas, novas e velhas, lutando para terem uso. Uso, uso de verdade, uso adequado – bem remunerado, claro – Uso apenas.
Tenho a convicção humilde de que muitos dos que não desceram assim agiram por desânimo, puro, venal, de sucatas acochambradas em qualquer serviço. Carimbadores (que ficaram) malucos. Leitores (que têm de ser) vorazes. Digitadores lerdos (digo, com ler e com dor, de tão ágeis outrora). Sucatas encaixadas em escuras gambiarras procedimentais, já sem força de tentar tentar.
O sucateamento de nós, servos (seres humanos?), é de tal industrialização que muitos querem e muitos já foram embora. Sim, foram adotados pela “AGU”, pela “Procuradoria da Assembléia”, Ministério Público, Magistratura etc. Dão seu sangue a quem sabe bebê-lo. Respeitados por isso; não só pela capacidade de SER Procurador, Juiz ou o que for (muitos de nós a temos, não é o que salta aos olhos), mas pela capacidade de saltar de banda, “sair fora”, em face da humilhação diuturna (diurna e noturna, mesmo!).
Saudosos colegas, saudosos amigos (namorados, maridos?), saudosas ex-sucatas, muitas das quais ainda estariam aqui, ralando conosco. Qualquer um prefere, sabemos, ralar a ser ralado, moído, triturado e sugado (mal sugado, lembremos, mal sorvido).
Não tem problema ser sugado, não. Não tem não. Mas nem um obrigado? De nada.