Eric Fenelon entrevista Soraya Misleh, doutoranda em estudos árabes
Foi lançado nesta sexta (24.03), na Livraria Antonio Gramsci, o livro “A limpeza étnica da Palestina”, do historiador israelense Ilan Pappé. Soraya Misleh, doutoranda em Estudos Árabes pela USP e coordenadora da Frente em Defesa do Povo Palestino, fez a apresentação da obra e falou sobre o histórico de luta e resistência na Palestina.
A partir da abertura de arquivos oficiais israelenses, Pappé debruçou-se em reexaminar criticamente os acontecimentos de 1948 e o sionismo enquanto projeto político. Nesta obra, alia documentos oficiais à memória palestina para demonstrar que a criação de Israel como Estado judeu, na escolha de suas lideranças, promoveu limpeza étnica, ou seja, expulsão deliberada dos palestinos.
O autor é um dos mais importantes entre os chamados novos historiadores israelenses. Professor da Universidade de Exeter, na Inglaterra. Filho de imigrantes judeus alemães, nasceu em Haifa em 1954, apenas seis anos após a criação do Estado de Israel – para os palestinos, a Nakba (termo árabe que significa catástrofe). Lecionou na Universidade de Haifa entre 1984 e 2007.
Após a publicação de “A limpeza étnica da Palestina” e de expressar apoio ao movimento BDS (Boicote, Desinvestimentos e Sanções) a Israel, passou a enfrentar pressão e ameaças, o que o levou a exilar-se na Inglaterra, onde vive hoje. Pappé não reviu suas conclusões, como fizeram outros “novos historiadores”. Pelo contrário, tem dedicado seu conhecimento à denúncia vigorosa da limpeza étnica do povo palestino.
E vai além: afirma que sem o reconhecimento histórico do que ocorreu em 1948, não é possível haver uma solução justa, o que implica necessariamente assegurar o direito de retorno dos milhões de refugiados palestinos às suas terras – como prevê a Resolução 194 da Organização das Nações Unidas (ONU).