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[Por Gustavo Barreto – Fazendo Media – 07.04.2017] À medida que a indignação mundial se instala sobre um ataque de armas químicas na província de Idlib – ainda sem informações precisas –, que teria sido feito pelo governo Assad, o ‘Democracy Now!’ conversou o dissidente político, linguista e autor Noam Chomsky sobre o conflito em curso na Síria.

Confira abaixo e, a seguir, breve análise do ataque feita por um autor sírio.

AMY GOODMAN: Passamos agora para Noam Chomsky, um dos dissidentes mais conhecidos do mundo. Ele é professor emérito do Instituto de Tecnologia de Massachusetts [MIT], onde lecionou por mais de 50 anos. Juan González e eu conversamos com ele no programa “Democracy Now!” de terça-feira. Depois da transmissão, continuamos a conversa. Pedi-lhe que falasse sobre a situação na Síria, bem como sobre o Oriente Médio.

NOAM CHOMSKY: A Síria é uma catástrofe horrível. O regime de Assad é uma desgraça moral. Eles estão realizando atos horrendos, os russos com eles.

AMY GOODMAN: Por que os russos com eles?

NOAM CHOMSKY: Bem, a razão é bastante simples: a Síria é seu único aliado em toda a região. Não é um aliado próximo, mas têm uma base mediterrânea na Síria. É o único país que mais ou menos cooperou com eles. E eles não querem perder seu único aliado. É muito feio, mas é isso que está acontecendo.

Enquanto isso, tem havido – é como o caso norte-coreano que estávamos discutindo – oportunidades possíveis para acabar com os horrores.

Em 2012, houve uma iniciativa dos russos, que não teve seguimento, por isso não sabemos o quão sério era, mas foi uma proposta para uma solução negociada, na qual Assad seria eliminado, mas não imediatamente. Você sabe, você não pode dizer a eles: “Nós vamos matá-lo. Por favor, negocie.” Isso não vai funcionar.

Mas algum sistema no qual, no decorrer das negociações, ele seria removido, e algum tipo de solução seria feita. O Ocidente não aceitaria, não apenas os Estados Unidos. França, Inglaterra, os Estados Unidos simplesmente se recusaram a considerá-lo. Na época, eles acreditavam que poderiam derrubar Assad, então eles não quiseram fazer isso, e portanto a guerra continuou. Poderia ter funcionado? Você nunca sabe ao certo. Mas poderia ter continuado.

Enquanto isso, Catar e Arábia Saudita estão apoiando grupos jihadistas, que não são tão diferentes do ISIL [Estado Islâmico do Iraque e do Levante]. Então você tem uma história de horror de todos os lados. O povo sírio está sendo dizimado.

AMY GOODMAN: E os EUA agora enviando mais 400 soldados para a Síria. Mas se os EUA tiverem um melhor relacionamento com a Rússia, isso poderia mudar tudo?

NOAM CHOMSKY: Isso poderia levar a algum tipo de acomodação na qual seria implementado um acordo diplomático negociado, o que de modo algum seria agradável, mas pelo menos reduziria o nível de violência, o que é crítico, porque o país está simplesmente sendo destruído. Está descendo para o suicídio.

‘Pesadelo sem fim precisa acabar’

A cifra de mortes do alegado ataque com armas químicas em uma cidade controlada pelos rebeldes na província de Idlib aumentou para 86. Os mortos incluem pelo menos 30 crianças. Dezenas de civis também ficaram feridos.

Grande parte da comunidade internacional disse que o exército sírio é responsável pelo ataque químico. A Síria negou a acusação, alegando que os produtos químicos foram liberados depois que um ataque aéreo sírio atingiu um estoque de armas químicas controladas por grupos rebeldes.

Enquanto isso, na Casa Branca, Donald Trump disse que o ataque transformou sua visão sobre a guerra na Síria. Apenas na semana passada o governo Trump estava sinalizando que não iria pressionar para a remoção do presidente sírio Bashar al-Assad, mas durante uma coletiva de imprensa na quarta-feira (5) Trump adotou um tom diferente.

Confira entrevista com a escritora sírio-americana Lina Sergie Attar, que é originalmente de Alepo. É cofundadora e da Fundação Karam, organização filantrópica que ajuda sírios dentro e fora do país.