(Alessandra Murteira)
Entrevista concedida nos dias 06 e 07 de julho, em Salvador, durante o VIII Congresso Nacional da Federação Única dos Petroleiros
Aldo Miguel Fosatti, petroleiro argentino, representante da Federación de Trabajadores de la Energía de la Republica Argentina (FETERA) e do Movimiento Oronegro, entidade que congrega nacionalmente cerca de 30 mil ex-trabalhadores da YPF que lutam pela reestatização da companhia.
Aldo tem 63 anos e trabalhou durante 38 anos como técnico industrial na YPF. Está há oito anos aposentado e já sofreu dois infartos. Só na Grande Buenos Aires, onde vivem cerca de cinco mil ex-trabalhadores da YPF, Aldo perdeu 1.200 companheiros da estatal nos últimos dez anos, vítimas de doenças cardíacas, suicídio, depressão, enfim, em conseqüência do impacto que a privatização da petroleira Argentina representou em suas vidas.
“AYPF era uma empresa estatal modelo, que cumpria plenamente o seu papel social e econômico. Os petroleiros tinham direitos e benefícios que serviam de exemplo de luta para as demais categorias. Por isso, foi um baque tremendo na vida de todos nós a privatização da YPF. Perdemos de imediato 35 mil postos de trabalho. Isto causou um problema social e familiar muito grande para todos nós. Muitos de nossos companheiros não resistiram e foram pouco a pouco definhando. Sem falar naqueles que cometeram suicídio”, revelou Aldo Fosatti, comentando o alto índice de mortes precoces entre os ex-trabalhadores da YPF.
O processo de privatização da YPF teve início em 1989, quando o governo neoliberal de Carlos Menen criou uma lei federal, abrindo o capital acionário das empresas estatais. Foram sendo privatizadas todas as empresas de energia, da indústria de carvão, as siderúrgicas, as empresas de saneamento básico, os setores de telefonia e de transportes aéreo e marítimo. Enfim, todas as empresas federais. Em 1994, a YPF foi vendida à multinacional espanhola Repsol, que acabou com 35 mil postos de trabalho, através de programas de “incentivo” à aposentadoria e de demissão voluntária, sem falar nos corte feitos sem justificativas.
A YPF, cujo efetivo próprio era de 40 mil trabalhadores antes da privatização, hoje conta com apenas 5 mil petroleiros remanescentes da estatal. Os cerca de 20 mil trabalhadores que atuam hoje na empresa são em sua grande maioria prestadores de serviço (terceirizados). Os novos contratados tiveram direitos e salários violentamente reduzidos em relação aos antigos trabalhadores.
A YPF era a maior empresa estatal Argentina, voltada prioritariamente para suprir o mercado interno com combustíveis a preços baixos para a população e subsidiado para os setores estratégicos do país. Hoje, 90% do petróleo e gás produzidos na Argentina são exportados em forma bruta. O preço dos combustíveis comercializados no país é exorbitante, inflacionando o mercado interno e arrasando com vários setores da economia, como os pequenos e médios agricultores que não têm mais como escoar os seus produtos.