Radialistas Apaixonadas e Apaixonados) 

Texto divulgado pela Agência de Informação Frei Tito para a América Latina www.adital.org.br

NARRADOR – Anoitecia naquele 16 de outubro de 1980. Irma Flaquer e seu filho Fernando pegaram seu carro sem se dar conta de que uma camionete os seguia…
EFEITO – CARROS CORRENDO, FREIOS E DISPAROS.
IRMA – Meu filho, dispararam contra meu filho!… Socorro, ajudem-me…
EFEITO – GRITOS SUFOCADOS DE MULHER
IRMA – Quem são vocês?… Deixem-se… deixeimmm…
NARRADOR – Fernando ficou ferido e morreu horas mais tarde. Os agressores cobriram o rosto da jornalista e a levaram. Irma Flaquer desapareceu.
CONTROLE – MÚSICA DE MUDANÇA DE TEMPO
LOCUTORA – Irma iniciou sua carreira muito jovem. Aos 20 anos, trabalhava no rádio e na imprensa da Guatemala. Em sua coluna “O que  outros calam”, do jornal La Nación, criticava a corrupção, denunciava a pobreza e a discriminação contra os indígenas.
LOCUTOR – Em 1968, se tornou militante do Partido Revolucionário e  ocupou cargos importantes durante o governo de Méndez Montenegro. 
LOCUTORA – Nesse ano, quando trabalhava para a esposa do Presidente, lançaram uma granada contra seu automóvel ferindo-a gravemente.
LOCUTORA – Méndez Montenegro lhe ofereceu seu apoio para abandonar o país. Ela não aceitou. Decidiu perdoar seus agressores e escreveu um livro intitulado “Meu querido assassino”.
CONTROLE – CORTINA

LOCUTOR – Irma Flaquer continuou criticando duramente as violações dos direitos humanos e denunciando a impunidade de alguns setores.
LOCUTORA – Em 1980, com outros cidadãos, criou a Comissão Nacional de Direitos Humanos da Guatemala. Seis meses mais tarde, tiveram que dissolvê-la e seus fundadores, ameaçados de morte, saíram do país. Todos, menos Irma.
LOCUTOR – Durante o governo militar de Lucas García, Irma Flaquer foi  psicóloga da Direção Geral de Presídios e assessora em Política Criminal do Ministério de Governação.
LOCUTORA – Ao mesmo tempo, mantinha relações com opositores ao regime, em particular com as Forças Armadas Rebeldes.
PISTOLEIRO – (POR TELEFONE) Sabemos que anda com guerrilheiros. Cuidado com o que diz se ama sua vida… (CUELGA)
LOCUTOR – Irma Flaquer teve de abandonar seu trabalho jornalístico pelas múltiplas ameaças de morte das organizações de extrema direita.
IRMA – Tenho medo dessa gente. Vigiam minha casa.
LOCUTORA – Apesar de tudo, insistiu em ficar na Guatemala. Alguns dias antes de seu desaparecimento, o Ministro de Governação chamou o ex-marido de Irma…
MINISTRO – (POR TELÉFONE) Irma deve sair imediatamente do país. O grupo que decidiu eliminá-la está fora de meu controle.
LOCUTOR – As ameaças se cumpriram dia 16 de outubro de 1980… 
EFEITO – CARROS CORRENDO E DISPAROS
LOCUTOR – Nesse dia, Irma Flaquer desapareceu. 
CONTROLE – MÚSICA MUDANÇA DE TEMPO
LOCUTORA – Passaram-se 22 anos. Sua família visitou em vão necrotérios e hospitais, mas nunca a encontrou.
LOCUTOR – A Federação Internacional dos Direitos do Homem concluiu a respeito: 

NARRADOR – Irma Flaquer está numa prisão clandestina da Escola Politécnica da Guatemala. Está em estado gravíssimo, padece de demência avançada pelas torturas e violações que sofreu…
CONTROLE – CORTINA TRISTE
LOCUTORA – O Sistema da Organização das Nações Unidas na Guatemala estabeleceu o Prêmio para Jornalismo Investigativo “Irma Flaquer”. Um reconhecimento para esta mulher que deu sua vida pelos Direitos Humanos,
a verdade e a justiça.