[Por Reginaldo Moraes] Na primeira nota deste manual, dissemos que a mídia conservadora tem uma função essencial que não tem nada a ver com “mostrar o que está acontecendo”: a cada choque da realidade, ela procura reorganizar os preconceitos de seus seguidores para que sigam sendo aquilo que são.
Muita gente tem ficado meio tonta com o que acontece na Globo, faz um mês, ou algo assim, isto é, depois da aparição do tal Joesley, o visitante noturno de Temer. Mas a coisa está ainda pior lá dentro da marinholândia. Dizem que o pessoal de jornalismo das organizações Globo está recebendo apoio psicológico especial para não pirar. Seus heróis de ontem se transformaram na Maria Madalena – pedra não falta.
Para completar o quadro de criação de realidades paralelas, a TV dos Marinhos resolveu inaugurar um novo cenário para seu teatrinho de variedades, o Jornal Nacional. E daí o chefão vomitou um editorial tão delirante que deveria aparecer no Fantástico. Os Marinhos resolveram prevenir o povo brasileiro, dizendo que vivemos uma época de difusão de mentiras travestidas de verdades. O que é que eles andaram fumando?
Na verdade, estou fingindo surpresa. Afinal de contas, faz tempo que sabemos que essa mídia não é importante apenas para difundir, propagandear. A mídia conservadora é um instrumento de coesão, de costura do movimento, transformando espectadores em ativistas e, depois, convertendo esses ativistas em uma base eleitoral confiável. Como se diz hoje, a mídia “unifica o discurso”, afina a orquestra, fortalece os laços de identidade. Eles estão garantindo a “estabilidade mental” de suas ovelhas, diante de tantos ziguezagues.
Em 1975, o comentarista político Kevin Phillips publicou o livro Mediacracy: American Parties and Politics in the Communications Age, uma análise das redes nacionais de comunicação americanas. Kevin vivia dentro do circo político – fora assessor do partido republicano antes de se transformar em “comentarista independente”. No livro, ele afirma que as cadeias nacionais estavam suplantando o papel das velhas oligarquias, dos homens de negócios conservadores, dos barões das redes regionais. As redes nacionais se transformavam nos árbitros do poder político. Suplantavam, também, claro, os partidos. Isso sugere alguma coisa para o Brasil?