[Rosângela Ribeiro Gil – NPC / São Paulo] Ainda antes das seis horas da manhã do dia 8 de agosto último, recebi em meu WhatsApp texto e vídeo sobre uma explosão em uma subestação de energia da Unidade Termelétrica (UTE) Euzébio Rocha, por volta das 18h45 do dia anterior, em Cubatão (SP), que provocou apagão completo por mais de meia hora da termoelétrica e também da Refinaria Presidente Bernardes. Fiquei impressionada com a rapidez e a qualidade do material informativo, o que me deixou curiosa para conhecer quem estava à frente dessa comunicação sindical. Liguei para o Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista (SindipetroLP) e falei com a Carolina Mesquita, uma das jornalistas do setor de imprensa do local, que me explicou que a produção de material audiovisual ficou pronto tão rápido porque eles têm um profissional plantonista. Fato totalmente justificado já que a unidade da Petrobras não para e os acidentes, infelizmente, também não.
“O departamento de imprensa de uma entidade sindical é um dos setores mais estratégicos de um sindicato de trabalhadores.” A observação é de Fábio Mello, coordenador do setor do SindipetroLP que falou ao BoletimNPC. Para ele, a comunicação sindical cumpre um papel muito além do informativo, “ela tem dimensão mobilizadora”. Ele cita uma experiência recente, em 2015, na greve da categoria que durou 23 dias, em todo o País. “Com a publicação dos nossos vídeos – muitos desses com trabalhadores da base protagonizando fortes gritos de ordem, com palavras de luta – exercemos uma influência muito positiva para os petroleiros de outras bases.” Ele explica que esses vídeos se multiplicaram pelos celulares, por meio de várias ferramentas digitais e redes sociais, como o WhatsApp. “Foi uma injeção de ânimo aos trabalhadores que estavam em dúvida sobre a continuidade da luta.”
Junto com a Carolina temos mais dois jornalistas no sindicato, o Leandro Olímpio e Sílvio Muniz. A equipe, “fera”, é responsável pela estrutura comunicacional ativa e interativa, como site, conta no Facebook com mais de nove mil seguidores, publicações impressas, canal YouTube com a criação de vídeos, que viralizam no meio dos petroleiros brasileiros.
Prosseguindo na sua arguta avaliação, Mello diz “que a comunicação sindical é uma prova concreta de que não existe neutralidade”. Para ele, uma ideologia disseminada nos cursos de jornalismo que interessa aos meios de comunicação da chamada “grande imprensa”. “Isso é uma falácia”, é taxativo, e arremata: “A nossa imprensa tem lado, opinião e não trata os dois lados como iguais.” E a gente completa: porque não são iguais mesmo.
Se todos fossem iguais a vocês
Ele conta como foi o fortalecimento do setor: “Quando assumimos a gestão, cerca de dois anos atrás, tínhamos dois funcionários no departamento. Imediatamente contratamos mais um jornalista. Além disso, por entender que o audiovisual é uma ferramenta muito poderosa, investimos na aquisição de equipamentos nessa área. E queremos seguir investindo.”
E o esforço valeu e está valendo a pena, conforme ainda o relato da liderança dos petroleiros da região litorânea de São Paulo: “Produzimos alguns documentários e um deles, por sua linguagem, conteúdo e técnica, teve um retorno muito positivo. Chegou a ser transmitido em TV aberta de São Paulo, na TVT, e foi selecionado para ser exibido em um festival independente de cinema de escolas de São Paulo. Fora isso, reformulamos o nosso site, que ganhou um layout mais moderno. E investimos bastante em nossa fanpage.” Mas ele mesmo entende que o investimento em comunicação nunca pode parar, e ensina: “Os desafios são enormes. Mas, com certeza, podemos dizer seguramente que o Sindipetro Litoral Paulista vem se firmando como uma referência hoje, não só de tradição e combatividade, mas também de comunicação eficiente e conectada ao nosso tempo.”
A descoberta de que uma outra comunicação é possível se deu ainda na faculdade, como nos conta Sílvio. Foi em contato com Leandro. “Éramos amigos e falávamos sobre nossos trabalhos, ele da descoberta que era o jornalismo sindical, onde a militância política era bem-vinda e eu de como era difícil emplacar pautas de cunho social na mídia convencional”, diz ele, que trabalhou no portal G1, do grupo Globo. E prossegue: “Para mim, todo jornalista nascia com vontade de combater as opressões, mas infelizmente uma parte dos profissionais que estão nas redações não se vê como classe trabalhadora, muito menos como parte do povo.”
Paraquedas sindical
Já a história da Carolina é diferente, mas também se inscreve nas boas descobertas da vida: de que o Brasil, graças às deusas, é muito além do que o “Jardim Botânico”! Ela nos relata como chegou ao SindipetroPL há oito anos: “Entrei para a comunicação sindical de “paraquedas”. Fui indicada para uma vaga de emprego, em São Paulo, e ao ser contratada lidei com mais de 40 sindicatos. Essa nova realidade me encantou porque mostrou que através das palavras podíamos motivar categorias e obter dos “patrões” melhorias para os trabalhadores. Depois disso, fiquei um tempo trabalhando em redações de jornais, o que me trouxe a oportunidade de trabalhar no sindicato.”
Como nem tudo são flores e a classe operária ainda não chegou ao paraíso, Carolina observa que o trabalho, por vezes, é exaustivo, mas ao mesmo tempo muito motivador. “Costumo escrever uma coluna chamada “O Petrolino” que dá voz aos petroleiros e quando ouço alguém comentando os meus textos fico extremamente feliz porque sei que de alguma forma as minhas palavras surtiram algum efeito.”
Do jornalismo literário ao sindical
Leandro Olímpio conseguiu a vaga de emprego de jornalista no SindipetroLP, em 2010. O teste, explica, era uma matéria sobre o pré-sal. Ele admite: “Pouco entendia de pré-sal, pouco entendia de sindicato, tinha dificuldade em enxergar diferenças entre esquerda e direita. Meus objetivos profissionais eram outros, trabalhar com jornalismo literário.” Sete anos depois, nos informa Leandro, “tenho uma profunda identificação com meu trabalho, me considero um militante de esquerda, inclusive me organizo politicamente, e certamente sem o sindicato nada disso seria possível. Não só profissionalmente, mas em vários outros âmbitos da vida pessoal, hoje estar inserido no sindicato, trabalhando com comunicação sindical, foi um divisor de águas em minha vida.”
Com essa consciência, Leandro está atento não apenas às condições de trabalho dos petroleiros, mas também na da sua categoria. “Há uma tendência cada vez maior de se exigir do jornalista ser multitarefas. Sabemos o quanto isso é perigoso, sua relação com a precarização das condições de trabalho, da sobrecarga de serviço, da dificuldade de nós jornalistas – enquanto categoria de trabalhadores – nos organizarmos para defender nossos interesses. Mas é uma realidade. Todos nós, em alguma medida, fazemos de tudo um pouco: filmagem, edição de vídeo, redação, diagramação.”
Por outro lado, como ele mesmo salienta, “o que é feito por que acreditamos naquela causa, e por isso nos entregamos um pouco mais, de forma voluntária e espontânea, e o que é feito por que somos empregados e, afinal, trabalhadores como eles, que têm suas reivindicações? É uma conta difícil de equacionar. Mas penso que o que prima nesse mar de contradições é o aspecto positivo”.
Leandro nos ensina: “Num mundo onde a imensa maioria das pessoas trabalha pela simples e dura necessidade de sobreviver, recebendo em troca o mínimo possível para atender suas necessidades básicas, trabalhar com algo com que você se identifica e entende ser importante para a construção de um mundo mais justo, é um privilégio.”