[Por Reginaldo Moraes] Quer ver um strip-tease de jornalistas? Veja o Globonews entrevistando os candidatos. Você acaba conhecendo mais os que perguntam do que aqueles que respondem. Melhor exemplo não podia haver do que a “sabatina” dos sábios da Globo diante do capitão Bolsonaro.
Bolsonaro pode ser a besta que todo mundo fala. Pode ser. Mas para o público dele, ele ganha dizendo as coisas que diz. Não perde. E ganha também quando ao invés de se defender ataca. Um disparo atrás do outro, com o seu conhecido estilo tacanho.
Na ridícula sabatina da Globonews, o engomadinho Camaroti, guardião da moral, cobrou dele o recebimento do auxílio-moradia. O capitão não se defendeu. Atacou. Lembrou que o jornalista estava mergulhado numa imoralidade, a de fingir que era pessoa jurídica para não pagar imposto. O jornalista sequer tentou negar. Não podia, é isso que ele faz, como todo aquele pessoal: eles pagam menos imposto de renda do que você e eu, assalariados. O bebê Camaroti gaguejava, diante dos gritos do capitão: “responda, o candidato é o senhor”. E quem era o inquisidor? Dona Leitão precisou interromper, porque dali a pouco Bolsonaro podia ir mais longe e perguntar se alguém achava imoral o modo como a Globo funcionava e pagava seus jornalistas.
O final foi eletrizante. Ou gargalhante, a depender do distinto público. Foi a vez do grande sábio Roberto D’Avila, aquele que um dia incensou o Brizola e depois se inclui entre os muitos que traíram o ex-governador, juntando-se ao clã dos Marinho.Com aquele charme que adquiriu em Paris, o “jornalista” questionou o apoio do capitão à ditadura. Como se fosse necessário. Em um programa da Globo, a emissora criada e sustentada pela ditadura! O brucutu tirou do bolso a lembrança adequada: a Globo e seu editorial de apoio ao golpe. Por que é que vocês me cobram, se era isso que vocês pediam?
Mas o melhor estava por vir. Uma das mais desmoralizantes cenas do capacho Miriam Leitão, o cabo Anselmo de saias. Aquela sequência de cenas é de chorar (para ela). Desde o começo. Primeiro, com a madame Leitão pedindo tempo para respirar e receber a mensagem do além. O juiz da luta estava contando os pontos e parou para dar um tempo à dona Miriam, que estava nas cordas. Lá no fundo, alguém da Glovo estava psicografando a mensagem do velho Marinho, com certeza. Demorou o download do espírito, ela ficou ali, parada, sem graça.
Enquanto isso, naquele ar de velório, todos aqueles jornalistas tagarelas e celebrizados ficaram calados, caladinhos, procurando um tapete para entrar debaixo. Se não me engano, de vez em quando uma gargalhada forçada – era o D’Ávila, disfarçando seu próprio nervosismo. Afinal, o pateta havia levantado a bola pro brucutu chutar os bagos do patrão. O único que estava à vontade, porque havia acertado o gol, era o Bolsonaro. Ainda tirou sarro do capacho Gabeira, a quem prometeu um abraço hétero. E o Gabeirinha, sempre tagarela, ficou olhando para a ponta do sapato, rezando para que a Light cortasse a luz. Leitão, D’Avila, Gabeira, naquela roda sobrava gente que tinha virado a casaca. Enquanto Bolsonaro tinha espasmos de felicidade com o golpe que havia dado, dona Leitão aguardava o telepronter sussurrar a resposta em seu ouvido. O espírito finalmente baixou e ela repetia gaguejando, sem graça, envergonhada, a explicação que não explicava coisa alguma.
Em resumo: com seu estilo tosco, Bolsonaro encurralou o tribunal da Globo. E isso, para seu público, foi uma goleada. Não adianta negar. Se a Globo bater nele, ele agradece. Porque isso o promove. Economiza tempo de TV no horário gratuito. É propaganda sem custo. Do lado da Globo, uma indecisão. Preferia que não fosse Bolsonaro o ungido das urnas. Mas…. e se acontecer? Bom, vamos ter que colaborar, mais uma vez. Desculpe, capitão, foi ruim… Toque a banda e baixe o pau. A gente dá cobertura.