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[Por Manuela Azevedo] Dia 31 de maio, última sexta, uma mulher registra um Boletim de Ocorrência em São Paulo acusando o jogador de futebol Neymar do clube Paris Saint-Germain, atualmente, treinando no Brasil por conta de um amistoso da Seleção Brasileira. De acordo com o Dossiê de Violência Contra a Mulher, da Agência Patricia Galvão, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada em território nacional. Se levarmos em consideração os dados, neste período entre a denúncia e esse texto, mais de 850 mulheres foram estupradas no país sem a chancela do atleta.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o Brasil tem uma taxa de feminicídio estimada em 4,8 para 100 mil mulheres – a quinta maior do mundo.

Ainda assim, Neymar é inocente! Ele disse!

O pai do jogador e seu empresário, Neymar da Silva Santos, falou que o advogado da moça que fez o BO tentou extorqui- lo antes da denúncia. É verdade – ele disse!

O “Menino”, como foi calorosamente chamado pelo jornalista Datena, no programa Brasil Urgente, foi inocentado em rede nacional. Ele é uma vítima!

Hoje, 6 de junho, o Globo.com traz o seguinte título na página: Vídeo mostra modelo agredindo Neymar.

De acordo com a revista Forbes, em 2018, Neymar era o 2o esportista com maior número de seguidores no Instagram – hoje são 119 milhões. Essa mídia foi eleita pelo atleta para exibição de um vídeo de sete minutos com explicações e publicações de fotos íntimas dele com a menina. Mas não é manipulação da opinião pública, é defesa! Nem é crime a exposição pública a que ela foi submetida.

Em todo esse cenário, a mulher disse, apenas, que foi vítima de violência e estuprada. Ela fez uma denuncia! Qualquer cidadão tem o direito de levar a suspeita de ocorrência de um crime ao conhecimento da polícia para que aquele fato seja apurado e, eventualmente, seu autor punido.

Sim, ela manda ‘nudes’. Ela realmente queria transar com Neymar. Isso! Ela queria! Ela sabia o que estava fazendo – não duvido que sabia. Mas talvez o que muita gente desconheça é que ela, ainda assim, poderia proferir uma negativa. Cerca de 60% dos casos de estupros em mulheres, as vítimas sofrem abusos de namorados, maridos, familiares ou conhecidos, homens com quem elas se relacionam intimamente, as vezes, por anos. Homens wue dividem eventos sociais, casa ou mesmo a cama. “Nãos” que, se proferidos, não foram escutados. Então, ela não foi encurrala em um beco escuro. Ela pegou um avião, ela hospedou-se em um hotel, ela marcou com o homem. Mas ela alega que disse ‘não’. E se disse, é estupro.

Para alguns (muitos), incluindo o presidente do Brasil, ela está mentindo. O mesmo presidente que, nesta semana, lamentou publicamente a perda de homem que suicidou-se após bater em mulher grávida, supostamente, de seu filho. A mulher trazia o título de ‘amante’ e, hoje, está hospitalizada. Diante de seu total silêncio sobre o ocorrido, e sua penalização sobre o fato, a representatividade máxima desse país lhe assegurou esse direito. Calou e consentiu.

Comentários como “é uma piranha”, “vagabunda”, “certo fez o Bruno”, entre outros circulam livremente em redes sociais sobre o caso “estupro Neymar”. Piadas? Isso é realmente senso de humor?

Ela pode ser uma vitima? Ela pode ser uma das mulheres que diariamente são estupradas? É uma das que manda foto provocante, uma das que usa short curto, uma das que bebe, uma das que circula sozinha, uma das que apenas respira. Há comportamento que justifique ESTUPRO?

Mas pode ser que ela não tenha sido violentada? Pode!

Quem sabe? O que se assiste é a barbárie de acusações, julgamento e condenações que fortalecem o discurso de violência contra a mulher. E talvez pouco se aperceba disso, porque é orgânico, porque é ‘natural’ e socialmente aceito. Inclusive, isso é a única coisa que me fez refletir para escrever ou escrever para refletir.

Simples, ela apenas teria direito à dúvida. O que eu poderia avaliar se não pautada em achismo, conceitos sociais, princípios e juízos pessoais. Se avaliar dados, as situações não são favoráveis para Neymar, mas ele é um indivíduo antes dos índices. Se acho difícil um homem rico e poderoso estuprar uma mulher no cenário que se vive? Ele não seria o primeiro, nem o segundo, nem o terceiro…e nem o último. Ainda assim, não estou dizendo que fez.

Um simples “Será?” seria uma evolução incrível para as mulheres!

De resto, estamos mais uma vez na praça, de pedra na mão. Felizmente, alguém disse que sempre há uma escolha – atirá-la ou recolhê-la.