Um conto de nossos tempos, onde ficção e realidade não são mera coincidência.
Loki é um dos mais conhecidos deuses da mitologia nórdica, considerado um símbolo da maldade e da mentira | Reprodução

Texto de Dão Real Pereira dos Santos para o Brasil de Fato

Em algum lugar deste mundo há um país que idolatra um deus de nome esquisito chamado de Odacrem. Em nome desse deus, ergueram muitos templos luxuosos, coloridos, verdadeiros shopping centers, onde havia de tudo, mas que tinham sempre em comum a crença de que só Odacrem resolveria todos os seus problemas, bastava que todos a ele se submetessem. Os templos eram enormes e sempre tinham muitos atrativos. Até mesmo os menos afortunados, os pobres e miseráveis, se sentiam protegidos e resignados, pois, afinal, a situação de cada um era resultado da sua capacidade e do seu esforço individual e nos templos de Odacrem sempre haveria um espaço acolhedor para qualquer um, mesmo que não tivesse condições naquele momento, podia visualizar todas as glórias e benefícios que poderia usufruir em tempos melhores.

Como acontece em todas as crenças, seus seguidores acreditavam também na existência de um diabo, que se divertia infernizando a vida das pessoas. O diabo era conhecido como Omsinumoc, outro nome esquisito, e vivia criando ilusões e dúvidas na cabeça dos fiéis, além de tentações, com mil e uma promessas vãs de que um dia todos seriam iguais e que, assim, o mundo seria muito melhor. Omsinumoc, mesmo quando não estava muito presente era sempre lembrado e devia ser permanentemente combatido. Ninguém sabia muito bem como era esse diabo, mas todos deveriam evitar qualquer contato, achavam que ele se alimentava das criancinhas desprotegidas. Diziam, inclusive, que em algum lugar, perto do fim do mundo, era o diabo que controlava as pessoas e todos eram oprimidos, não tinham liberdade, eram pobres, tristes, feios e usavam roupas cinza, todos iguais, além de serem preguiçosos e depravados.

Odacrem era um deus muito forte e poderoso, e se manifestava aos mortais com o seu sagrado humor, sempre muito instável. Quando estava de mau humor todos logo percebiam e sentiam. Os economistas, os analistas políticos e os meios de comunicação, de plantão, tinham a função de mostrar a todos, o tempo todo, como estava o humor de Odacrem, pois este era o sinal de alerta mais importante para saber se estavam ou não no caminho certo. Odacrem sinalizava sempre com o seu humor. Portanto, o segredo da felicidade era manter o bom humor do deus Odacrem, mas isso era muito difícil, pois ele sempre era muito volúvel, qualquer declaração equivocada de alguém importante, resultado de alguma pesquisa eleitoral, ou algum acontecimento político e seu humor já se modificava. Quando ficava de mau humor, era aquela correria. Ele exigia sacrifícios para se acalmar, e sempre que isso acontecia, muita gente ficava em dificuldade para poder agradar o deus. Mas todos acreditavam que se Odacrem estivesse de bom humor, a vida seria melhor e todos seriam beneficiados. 

Mas era preciso ter sempre muita atenção com Omsinumoc, que era sorrateiro e se fortalecia, justamente quando Odacrem estava de mau humor. O diabo era muito esperto e explorava os lapsos de fé dos fiéis de Odacrem. Claro, por mais devoto que eles sejam, quando a situação fica difícil, a fé também esmorece e aí, muitas vezes a consciência aparece e era a consciência das pessoas que fortalecia Omsinumoc.  

Os templos de Odacrem eram controlados por bispos e pastores, cuidadosamente selecionados para pregar a palavra do deus. Eles eram sempre pessoas muito ricas, a maioria tinha dinheiro suficiente para nunca precisar trabalhar e se apresentavam, e eram vistos, sempre como superiores aos demais. Ninguém sabia muito bem se eles eram ricos e bem-sucedidos por serem muito devotados ao deus Odacrem ou se era o contrário, se eles eram escolhidos para serem bispos e pastores por serem ricos e bem-sucedidos.

A lealdade dos bispos e pastores a Odacrem era garantida porque eles é que se apropriavam do que as ovelhas produziam. Quanto mais exigissem, mais eles ganhavam. Para eles, Odacrem era realmente um deus sempre muito bondoso. Às vezes não se sabia muito bem se foi Odacrem que criou os pastores e bispos ou se foi o contrário, pois quanto mais bem humorado estivesse o deus, mais os pastores e bispos ganhavam.

Mas Odacrem era também sempre um deus muito faminto. Ele exigia sacrifícios cada vez maiores. Queria consumir cada vez mais tempo de vida dos seus fiéis e, para isso, seus bispos e pastores eram implacáveis, diminuíam as recompensas, mantinham muita gente procurando trabalho, achavam que as mentes e braços ocupados ou preocupados todo o tempo afastava a possibilidade de as pessoas se entregarem à perigosa consciência, que era um atrativo perfeito para Omsinumoc. Eles também controlavam os homens que escreviam as regras para que estas fossem sempre e cada vez mais favoráveis ao deus Odacrem. Afinal, sem Odacrem, o que as pessoas fariam, como se alimentariam, como conseguiriam pagar para poder sobreviver?

Então tudo estava como o diabo gosta, os bispos e pastores só tinham a ganhar com o bom humor do deus e eles controlavam os homens que faziam as regras para as ovelhas que precisavam das recompensas para poder viver. Em nome do deus, os bispos e pastores controlavam tudo e tinham seus representantes até mesmo entre as ovelhas.

Mas em todo grupo de ovelhas, por mais ovelhas que elas sejam, sempre aparecem algumas que são diferentes, fora da curva, que acham que estão doando tempo demais de suas vidas e recebendo muito pouco retorno do deus Odacrem, ou que pensam que a vida deste jeito não é justa, pois os bispos e pastores não trabalham ou trabalham muito pouco e vivem sempre como príncipes. São estes radicais chatos que normalmente ficam tentando criar na massa a tão temida consciência. Eles não desistem nunca, mesmo sendo incompreendidos, destratados, perseguidos e presos.

Mas como “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, com o tempo mais ovelhas começaram a perceber que o tempo que elas doavam em troca da sua sobrevivência era também um produto muito desejado pelos bispos e pastores e era o principal alimento do deus Odacrem, e começaram, então, a se organizar, criando seus sindicatos que denominavam de Ohlabart.

No início, este movimento inusitado foi muito criticado e reprimido de forma violenta, mas com o tempo os bispos e pastores, sentindo que estariam perdendo o controle sobre as ovelhas, criaram também a sua organização que passaram a chamar de representantes de Latipac. E eis que começam então os conflitos entre Ohlabart e Latipac.

Quer saber como termina essa história épica? Leia o texto completo de Dão Real Pereira dos Santos para o site Brasil de Fato em: https://www.brasildefato.com.br/2020/01/08/odacrem-um-deus-insaciavel/?fbclid=IwAR1LtEXriYfYAJ1meu6NEXOPjNe51cwqkHhvyXocyG2LbPd9D25dBwyWpBA#_ftnref1