Sob o chão da cidade síria de Ghouta, nas proximidades de Damasco, há uma grande rede de túneis e abrigos. É assim que a população local foge ao bombardeio intenso e indiscriminado causado pela aviação russa.
Um dos alvos das bombas é um hospital. Parte de suas instalações também está no subterrâneo. Por isso, é conhecido como “A Caverna” (“The Cave”), mesmo nome do documentário de Feras Fayyad, finalista da última edição do Oscar.
Mas muitas atividades do hospital acontecem na superfície. Principalmente, primeiros socorros e cirurgias. Os feridos chegam aos montes. Entre eles, muitas crianças. Muitos bebês. Vê-los aterrorizados e manchados de sangue é como sentir uma mão forte e impiedosa a apertar o coração.
Na direção da unidade, a Dra. Amani. Eleita e reeleita para o cargo pelo corpo de funcionários, sua autoridade costuma ser questionada pelo simples fato de ser mulher. “Lugar de mulher é em casa, cuidando do marido e filhos”, diz um dos pacientes, que prefere ignorar a situação desesperadora de um hospital sob bombardeio constante para se queixar do sexo de sua diretora.
Amani e suas companheiras de trabalho trazem as cabeças cobertas, como manda a tradição muçulmana. Não negam sua religião, mas sentem na alma como ela pode transformar-se em opressão. Há homens bons, porém. O cirurgião-chefe trabalha ouvindo música clássica em um celular. Nas frequentes vezes em que falta anestésico, ele pede ao paciente que se concentre no som da orquestra para suportar as dores. Mas o estrondo das bombas não cessa.
“A Caverna” mostra como podem ser profundas as trevas a que pode chegar a estupidez humana.