Wellington Castro tem 36 anos. Ex-aeroviário, atualmente está desempregado. Mora no Fumacê, em Realengo. E é sobre vida no Fumacê durante a pandemia que iremos conversar aqui. Essa entrevista foi feita em 25/03/2020
Por Carolina Vaz/NPC
Carolina Vaz: Fala pra mim um pouco o que mudou na sua rotina desde que começou a quarentena…
Wellington Castro: Bom… Eu já estava em casa por conta dos planejamentos que tenho feito com estudo, cursos e concursos. Daria início à natação na semana em que foi decretada a quarentena. E precisei interromper a prática de esporte (caminhada e bicicleta) na Vila Militar.
Carolina: E aí no Fumacê você acha que tem estrutura para as pessoas tomarem os devidos cuidados? Acesso a água limpa, unidades de saúde, espaçamento entre as casas…
Well: Aqui é um conjunto habitacional, inaugurado em plena ditadura militar. É dividido em duas partes: pessoas que habitam no Caixotinho. Pessoas que habitam no Fumacê. É tudo uma coisa só. Os apartamentos do Fumacê têm estruturas diferentes do Caixotinho. É visível pelo aspecto dos telhados. Fumacê em formato de “casinha”, Caixotinho totalmente reto. Ambos têm quatro apartamentos por andar, num total de vinte “aps”. As portas do Fumacê são frontais às escadas. No Caixotinho tem apartamentos frontais e laterais, lado a lado, no mesmo andar. Bem próximas. Assim como as janelas. A parte do primeiro andar dos prédios tem muitas puxadas. E dependendo do dono, ou dona do “ap”, ficam coladas.
Carolina: Criam-se muitos becos?
Well: Sim e o ar fica comprometido, pois não deixa a passagem do ar passar. Sobre o primeiro andar, ele explica que tem muitos “puxadinhos”.
Carolina: Você estima que cada família / apartamento tem quantas pessoas em média?
Well: Muita gente. A parte onde moro é antiga. São cinquentões sessentões, idosos. Família só com mãe, pai e crianças é raro.
Carolina: E como você acha que as pessoas daí vêm reagindo a essa pandemia? Estão ficando em casa, tomando medidas de cuidado?
Well: Wellington Castro: Lá dentro do Fumacê a movimentação era bem maior por causa do comércio. Ainda vê pessoas circulando. O Caixotinho está vazio, silencioso.
Carolina: São mais trabalhadores ou pessoas fazendo coisas do dia a dia?
Well: Depende do horário. Como não tinha ônibus, as pessoas iam ao mercadinho, padaria. Algumas vendas aqui na parte onde moro abriram cedo, mas fecharam logo pela manhã mesmo. Como casa de material de construção, gás, água. No máximo até 10h30. Como o trabalhador chega por volta de umas cinco, até umas oito horas da noite, o pessoal está dentro de casa. Então, para comprar alguma coisa é bem raro. O camarada chega seis da tarde, vai ao mercado ou padaria, depois fecha. Os outros [bares], onde vende gás, onde tem uma loja de material de construção, eles abriram de manhã bem rapidinho porque a fiscalização batendo aqui eles poderiam ser autuados”. O Fumacê é pequeno. Em favelas com Curral, Batan e Vila Vintém, o comércio é maior. A circulação de pessoas pela rua também.
Carolina: E sobre os ônibus?
Well: Estão demorando bastante. Inclusive vans
Carolina: Quais linhas?
Well: Estrada da Água Branca, 731, 784. Av. Brasil todas para o Centro e Itaguaí. Para você que estudou na Rural se dirigindo à repórter, aquelas linhas para Seropédica: Real Rio. Cabuçu, Itaguaí, ou Seropédica. Av. Brasil. É condução para toda a cidade. Aqui também é próximo ao trem. Ramal Santa Cruz.
Carolina: E aí no Fumacê o abastecimento de água é normal ou de vez em quando é interrompido?
Well: Excelente! Não temos o que reclamar, não. Muito raro faltar água.
Carolina: Beleza. Aí tem UPA? Sabe se estão com o atendimento normal, ou lotadas… Sabe se estão vacinando os mais velhos?
Well: Sim. Uma fica ao lado da estação de Realengo. É bem movimentada. Pois acaba abrangendo as pessoas que moram na Vila Vintém, Coletivo… Aqui próximo ao Batan é uma clínica da família, na Av. Brasil, não é cheia, mas também faltam muitas coisas.
Carolina: E o que falta na clínica da família?
Well: Aqui na região é abastecido de bastante coisa. Tem UPA, Clínica da Família, hospital. Só que a mesma coisa que a população do Rio sofre a gente acaba tendo as mesmas consequências aqui… A gente tem até um hospital aqui que é tipo um Hospital Clínica, chamado “Sásia”. Atende a população, mas não é eficaz. O sistema que eles colocam, Sisgeg e tal, não é bom. Mas tem que considerar a defesa do SUS… imagina essa população toda se não tivesse o SUS. Aqui órgãos de saúde, mas que são cheios pra caramba e não atendem a população como deveria. Na época da Copa, a minha mãe passou mal, ninguém queria ficar com ela… quando tem evento ninguém quer ficar. Da outra vez que teve um surto de gripe, que era H1N1, ficava lotado e eles não tinham condições de atender. Mas coisas paliativas, como remédio assim, não estavam faltando. Mas profissional se ferra. Atende muita gente, muita gente mesmo. Outra coisa é que era pros agentes de saúde visitarem as casas. No início ia, hoje em dia não vai mais. Aqui tinha um Centro Social Urbano, que é um projeto da antiga Leão XIII. Não só tinha serviços de saúde, que era saúde bucal e outras coisas, como o serviço social funcionava muito bem. Mas isso desativou, e igual a isso aqui não tem mais.
Carolina: Eu esqueci de perguntar com quem voce mora.
Well: Moramos minha mãe e eu.
Carolina: Ok. Tem alguma coisa que você queira acrescentar sobre o Fumacê nesse contexto de epidemia?
Well: Orientação. Olha a falta que fazem os agentes de saúde, neste momento. Não existe nada tão eficaz como a atuação deles, orientando as pessoas nos apartamentos. Aqui não tem informativo, não tem orientação… Nenhum trabalho é tão eficaz quanto a comunicação com as pessoas. Os agentes fazem muita falta. Nem a injeção contra a gripe vieram aplicar nos
idosos. O “prefeta” peca pelo mínimo. Mostra o quanto é insignificante!