Foto: Thiago Firmino/Arquivo Pessoal

Por Tatiana Lima

Desde sábado (04/04), um mutirão de moradores, por conta própria, desinfecta becos e vielas do Morro Santa Marta, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. Mas, nesta quinta-feira (09/04), sem água, o “corre” voluntário teve que ser interrompido.

Em diversas periferias do Rio, o enfrentamento ao Covid-19 vem sendo feito própria comunidade ao invés do Estado. Inclusive, diante da falta de acesso ao básico: o direito à agua e saneamento. De acordo com Thiago Firmino, morador do Santa Marta, “durante a semana a falta de água tem sido frequente”.

Tiago, guia de turismo que puxou a ação, e que já havia sanitizado metade dos becos e vielas da favela desde domingo (05/04), diz que não há como finalizar o trabalho sem água. A limpeza é feita com uma mistura feita com água sanitária, quartenário de amônio, um tipo de desinfetante, diluídos em água.

A ação começou quando Tiago junto com o irmão Tande, inspirado na ação da China, por conta própria pesquisou como realizar a sanitização. Ele conseguiu a doação de R$5 mil reais de dois doadores para comprar o atomizador costal e os equipamentos de proteção individual (incluindo o macacão) para toda a equipe.

Eles também conseguiram doação dos produtos de uma fábrica, mas não puderam fazer a ação porque não tem uma gota de água na torneira das casas no Santa Marta. “Bugou a semana toda. Cedae secou água toda aqui”, reclama Tiago.

Acesso à água e ao sabão para lavar as mãos em casa é uma das principais orientações da Organização Mundial de Saúde e do Ministério de Saúde brasileiro para prevenir o contágio de Covid-19.

Procurada, a Cedae informou que uma equipe estava a caminho do local por volta das 12h. Mas, até o fechamento desta matéria, às 12h50, a equipe ainda não tinha chegado.

“Dois meses antes da pandemia, a Defensoria Pública fez reunião com a Cedae. Todo dia caía agua no morro. Foi anunciar a pandemia do coronavírus que passou faltar dia sim, dia não”, conta Tiago.

Segundo ele, os moradores do Santa Marta pagam uma taxa de R$38 por fornecimento de água e esgoto que, em muitos becos e vielas, é a “céu aberto”.

E desabafa: “Eles acham que a gente desperdiça água porque dizem que morador toma banho no chuveiro na laje ou enche uma piscina de criança. Isso é desperdício onde? Quer dizer que a gente não tem direito no calor do Rio de se refrescar? Tomar banho? Água é direito básico, não é favor não”.