Pastor protestante e líder pacifista trouxe esperança e foi fundamental na luta pelos direitos civis dos negros, como o direito ao voto
Os números falam por si só. Foram 9,3 milhões de quilômetros percorridos pelos Estados Unidos, durante 13 anos de ativismo; 2.500 vezes em que ele falou oficialmente em público, pregando pela paz e igualdade racial; mais de 20 vezes em que acabou preso e outras quatro vezes em que foi agredido por forças policiais. Não se pode negar que o pastor e ativista Martin Luther King Jr. foi um dos maiores líderes mundiais do século 20. King nasceu em janeiro de 1929 e estaria completando 90 anos hoje, porém, foi executado em 1968, vítima da intolerância, seu maior medo.
O primeiro movimento político de que Martin Luther King participou aconteceu em 1955 e foi iniciado com uma mulher negra, Rosa Parks, que foi presa ao negar conceder seu lugar na primeira fila do ônibus na cidade de Montgomery, capital do Alabama, a uma pessoa branca, como determinava a lei na época.
Dias depois, o Conselho Político Feminino, com o apoio de King e outros líderes negros da comunidade, organizou um boicote contra as empresas de transporte coletivo, que tiveram prejuízos cada vez maiores, enquanto milhares de negros chegavam a caminhar vários quilômetros até seus locais de trabalho, sempre acenando e cantando ao longo do caminho, em protesto contra a segregação racial.
Um ano após o protesto, a Corte Suprema estadunidense aboliu a segregação racial nos ônibus de Montgomery e, em algumas semanas, quando a conquista da nova lei finalmente entrou em vigor, Martin Luther King e Glen Smiley, sacerdote branco, entraram num ônibus e ocuparam, juntos, os lugares da primeira fila.
Vencedor do Nobel da Paz no ano de 1964 — o que aumentou a pressão para que os Estados Unidos tornassem o direito de voto aos negros uma realidade no ano seguinte —, King se pronunciou sobre o prêmio em certa ocasião: “Não digam que sou um Prêmio Nobel. Isso não tem importância. Digam que fui o porta-voz da justiça. Digam que procurei dar amor, que procurei amar e servir à humanidade”.
Para celebrar O nonagésimo aniversário de Luther King, a revista Diálogos do Sul selecionou oito filmes atuais que tratam de temas relacionados à negritude e à violência racista nos Estados Unidos. Confira:
Selma – Uma Luta pela Igualdade (2015): O filme conta a história de luta de Martin Luther King Jr. para garantir o direito de voto dos negros. Em 1965, King liderou uma marcha épica de Selma a Montgomery, Alabama. A marcha estimulou a opinião pública estadunidense e convenceu o presidente Lyndon Johnson (1963-1969) a implementar a Lei dos Direitos de Voto, em 1965, que pôs fim às práticas eleitorais discriminatórias, decorrentes da segregação racial nos EUA. O longa, que teve quatro indicações ao Globo de Ouro, entre elas o de melhor filme, também foi indicado ao Oscar pela mesma categoria, mas acabou levando o prêmio de melhor canção original.
42 – A história de uma lenda (2013): O longa, que se passa em 1946, conta a história de Jackie Robinson, um grande jogador de beisebol dos EUA, que virou uma lenda por ser o primeiro jogador afro-americano, rompendo a “linha de cor” no esporte, e competindo na Major League Baseball na era moderna. Na trama, o rapaz, interpretado por Chadwick Boseman, é recrutado por Branch Rickey (Harrinson Ford), o executivo de um time que disputa a maior competição do esporte nos Estados Unidos, o que faz com que ambos tenham que enfrentar o racismo existente não apenas na torcida e na diretoria, mas também dentro dos campos.
Eu não sou seu negro (2017): O documentário de Raoul Peck é centrado na figura do escritor negro James Baldwin, morto em 1987. Baldwin deixou inacabado o livro “Remember This House”, em que relata a vida e morte de amigos seus, como Martin Luther King e Malcolm X. Após a morte do autor, o manuscrito inacabado foi confiado ao diretor Raoul Peck, e isso deu origem ao filme. O trabalho completo, que acumula prêmios de melhor documentário e melhor roteiro, está disponível no YouTube e as legendas em português foram disponibilizadas, basta ativá-las.
Django Livre (2013): Escrito e dirigido pelo célebre Quentin Tarantino, o filme é ambientado no sul dos Estados Unidos dois anos antes da Guerra Civil, que ocorreu em 1861. O longa é estrelado por Jamie Foxx, que interpreta Django, um escravo cujo histórico brutal com seus ex-senhores o coloca cara a cara com o caçador de recompensas alemão, dr. King Schultz, que está atrás dos sanguinários irmãos Brittle, e Django é o único que pode levá-lo à sua recompensa. O filme, que mescla humor e história, traz grandes nomes do cinema, como Leonardo Di Caprio, Samuel L. Jackson e Christoph Waltz.
12 anos de escravidão (2013): Esse filme retrata a dor, sofrimento e martírio de um povo marcado pela escravização através da história do escritor abolicionista negro Solomon Northup, nascido livre no estado de Nova York onde era fazendeiro e violinista. O longa-metragem do diretor Steve McQueen — que recebeu 9 indicações ao Oscar —, se passa no ano de 1841 e nos mostra a luta de Solomon por 12 anos pela liberdade. Um homem inteligente, que vivia em tranquilidade com sua família, até ser enganado para viajar a trabalho para Washington, quando foi sequestrado e vendido como escravo.
O Nascimento de uma Nação (2016): Lançado em 2016, o filme retrata do ponto de vista de artistas negros, a violenta e histórica rebelião de escravizados na Virgínia, em 1831, liderada por Nat Turner. A narrativa racista da história estadunidense, eternizada pelo clássico de David W. Griffith , de 1915, conta como Nat Turner, não suportando mais ver seu povo sofrendo nas mãos dos brancos, usou o poder da Bíblia para liderar um movimento em nome da liberdade de todos.
Um Estado de Liberdade (2016): Baseado em uma história real, o longa trás a história do Newton Knight, um fazendeiro do sul dos EUA, que forma um grupo de rebeldes para agir contra a Confederação e abandona o Exército em plena Guerra Civil. Contrário à escravidão, junto a um grupo de ativistas, eles protegem famílias de sua região, mas acaba sendo obrigado a fugir, onde passa a conviver com pessoas escravizadas que fugiram de seus “donos” e, juntos, enfrentam os confederados e lutam por ideais como liberdade e igualdade, combatendo grupos como o Ku Klux Klan e a influência racista. Temas como a proibição do casamento inter-racial, libertação dos escravos e a luta pelo direito ao voto, também são pautados ao longo da trama.
Infiltrado na Klan (2018): Vencedor do grande prêmio do Júri no Festival de Cannes 2018 e ovacionado durante 6 minutos no evento, o filme do aclamado cineasta Spike Lee, diretor conhecido por abordar a questão racial no cinema há mais de três décadas, Infiltrados na Klan é uma adaptação da história real de Ron Stallworth, um policial negro da cidade de Colorado Springs, que não só conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan, como conquistou a confiança de seus membros até estabelecer contato direto com seu líder. As conversas, que eram sempre realizadas pelo telefone, deixaram de ser suficientes ao longo da trama, e como, obviamente, ele não podia comparecer pessoalmente às reuniões do grupo, a solução foi enviar o policial branco Flip Zimmerman para se passar por ele.
Bom filme!