Livro organizado por Bruno Souza Leal, Carlos Alberto de Carvalho e Elton Antunes (UFMG) é resultado de sete anos de pesquisa.
A obra analisa narrativas de nove mídias informativas sobre feminicídios, reunindo veículos locais e nacionais. E mais: também foram investigadas as percepções dos homens agressores, das mulheres que sofreram violência e dos próprios jornalistas que cobriram os casos.
O que mais nos chamou a atenção?
1) A dinâmica racial das vítimas raramente é identificada e não parece ser um componente relevante para as narrativas jornalísticas. Mulheres lésbicas e bissexuais estão praticamente ausentes no noticiário analisado.
2) Polícia Civil ou Militar são as principais fontes ouvidas, o que assemelha o texto das notícias a um boletim de ocorrência. Essa “segunda morte”, agora simbólica, apaga a existência das vítimas e de suas histórias de vida, apontam os organizadores do livro.
3) Homens são associados a “monstros” e têm seus crimes justificados pela “defesa da honra” nos textos noticiosos.
4) Na análise de 600 matérias dos jornais Super Notícia e Estado de Minas, as relações de gênero pouco aparecem como dinâmicas por trás das agressões. Uma leitura cotidiana, portanto, tende a ver marcas genéricas de violência sem as especificidades da misoginia.
5) Segundo as entrevistas feitas com jornalistas homens e mulheres, a culpabilização das vítimas é feita em brincadeiras no ambiente de trabalho das redações.
6) Todos os entrevistados reiteram a importância da objetividade e imparcialidade como forma de distanciamento e autodefesa da prática jornalística. No entanto, suas falas julgam e hierarquizam vítimas a todo instante. São frágeis no enfrentamento ao machismo à medida que a violência de gênero não é debatida nas notícias e toma o crime como um fato isolado, de caráter privado.
Fonte: objETHOS