No livro “Torto Arado”, o escritor e geógrafo aborda o legado escravista do país e a luta histórica pelo direito à terra
Geisa Marques
Conhecimento pode nos empoderar, pode ser o começo de ruptura com esse ciclo de exploração ancestral
Quando começou a escrever o romance Torto Arado, o baiano de Salvador (BA) Itamar Vieira Junior, hoje com 41 anos, não sabia quais rumos o livro tomaria. Ele tinha apenas 16 quando deu vida a duas irmãs descendentes de quilombolas, nascidas e criadas no sertão da Bahia, na região da Chapada Diamantina.
A adolescência ainda não havia lhe trazido a maturidade que chegaria mais tarde, com as vivências e carreira profissional, que lhe permitiu finalizar, anos depois, o romance vencedor do Prêmio Jabuti de 2020, que desde o último mês de dezembro figura entre os livros mais vendidos no país.
O reconhecimento pela obra chegou antes em Portugal, onde Torto Arado foi premiado em 2018 pelo Leya, importante premiação destinada a obras de língua portuguesa. Também no país europeu, Itamar venceu o Prêmio Oceanos, em 2020.
Trocaria todos os meus títulos acadêmicos, trocaria tudo, pelo que aprendi entre os trabalhadores rurais
O romance finalizado, publicado no Brasil pela editora Todavia, acompanha a história das irmãs Bibiana e Belonisia, no sertão da Bahia, tendo como elemento central o direito à terra, ao retratar um Brasil preso ao passado escravista.
As meninas são descendentes de quilombolas e crescem em uma comunidade de trabalhadores rurais, entre a rotina do campo, marcada pela servidão, e as tradições religiosas afro-brasileiras. Ainda na infância, um acidente com uma faca, narrado no primeiro capítulo, as torna intimamente ligadas.
O livro, que traz influências de romances ambientados no Nordeste brasileiro, de romancistas como Rachel de Queiroz, Jorge Amado, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, além do poeta João Cabral de Melo Neto, reúne acúmulos da trajetória de 15 anos de Itamar como servidor público do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), órgão responsável pela condução da reforma agrária no país, que encontra-se paralisada atualmente.
“Eu estava completamente influenciado, e comecei a escrever uma história que também se passava [no Nordeste], que tinha como mote a terra, o direito à terra. Claro, eu não tinha maturidade para escrever esse romance. Eu cheguei a escrever 80 páginas, mas essas páginas se perderam numa mudança que fizemos”, conta o escritor.
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