Entrevista com Heródoto Barbeiro. Por Rosângela Gil, de Santos
A frase é do jornalista Heródoto Barbeiro, apresentador de jornal na TV Cultura e na Rádio CBN, que participou de debate, em Santos, promovido pelo Sindicato dos Urbanitários da Baixada Santista, no dia 22 de agosto. O jornalista falou sobre jornalismo para uma platéia formada, em sua grande maioria, por sindicalistas e profissionais de imprensa.
Heródoto Barbeiro adotou um tom provocativo ao apresentar várias frases sobre jornalismo, levando muitos dos presentes a esboçarem expressões de espanto ou de concordância. Uma das mais polêmicas, sem dúvida, foi a frase do editor da revista Carta Capital, Mino Carta: “A grande imprensa é uma porcaria inominável”. O escritor norte-americana Mark Twain, morto em 1910 e autor de livros como “Tom Sawyer” e “O Princípe e o Mendigo”, também foi lembrado pela frase: “Jornalismo é separar o joio do trigo. E publicar o joio”.
Caminho de Tébas
O apresentador do jornal “Opinião”, da TV Cultura, comparou o jornalismo ao enigma da Esfinge, monstro que atemorizou o reino de Tébas. Quem não conseguia decifrar o enigma era devorado pelo monstro que tinha cabeça de mulher, corpo de leão e asas de águia. Heródoto afirmou que quem não consegue entender a imprensa é devorado por ela, fazendo referência ao “Decifra-me, ou devoro-te” da Esfinge.
Para ele, não se faz jornalismo sem se fazer vítimas, porque só é notícia aquilo que provoca uma certa reflexão, um certo eco social. “Quando você fala de alguém, para o bem ou para o mal, aquilo mexe com a vida da pessoa. Então é vítima no sentido de que tem um certo reflexo”.
A situação de vítima, no entanto, para o jornalista, não se confunde com a promoção de injustiças. Elas (as injustiças) acontecem quando o jornalismo não é isento.
A isenção não significa imparcialidade, que não existe no jornalismo. “Não existe imparcialidade na nossa profissão. O jornalista é sempre parcial, porque ele não consegue descrever os fatos sem colocar uma dose do que ele pensa, do que ele sente”.
Heródoto diz que o jornalista não pode aceitar falar mentiras ou manipular a informação. “Se a empresa me manda fazer uma mentira e eu concordo, sou tão responsável quanto ela. O jornalista tem de estar preparado para colocar o seu emprego à disposição toda vez que tiver um conflito de consciência”.
Quando o povo fala?
Heródoto Barbeiro afirmou que existe o jornalismo oficial, onde apenas as autoridades falam. “Quando é que o povo fala?”, perguntou o jornalista ao público, no sindicato dos urbanitários, que preferiu não responder. Com certeza, muitos dos sindicalistas presentes estavam pensando, ainda, no “Decifra-me, ou devoro-te”.
Os sindicalistas sabem muito bem como é lidar com a imprensa nessa relação de poder, sabem muito bem como a imprensa pode “demonizar” um movimento grevista, uma manifestação por melhores salários, etc.
Para terminar com chave de ouro e trazer um pouco de esperança ao público, Heródoto Barbeiro terminou sua exposição citando o jornalista Cláudio Abramo: “O jornalismo deve ser o exercício diário da inteligência, e a prática diária do caráter”.