[Por Sérgio Domingues] Muitos comemoram o papel das mídias alternativas nas manifestações populares iniciadas em junho. Não deixa de ser justo, mas é sempre bom temperar o otimismo do entusiasmo com o pessimismo frio dos números.
“Brasileiro passa muito tempo longe dos livros” diz o título da matéria de Cassia Almeida para o Globo, publicada em 09/08. A reportagem trata de pesquisa recentemente divulgada pelo IBGE, que constatou que a leitura ocupa só 6 minutos do dia dos brasileiros, em média.
Foram ouvidas mais de 5 mil pessoas com 10 anos de idade ou mais. O levantamento limitou-se a quatro estados (Pará, São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco) e o Distrito Federal. Mas dificilmente a realidade é outra no restante do País.
Mais grave é o que dizem outros números da mesma pesquisa. Enquanto a leitura fica com aquela meia dúzia de minutos, a TV recebe 2h35m de atenção. Também mostram que mais da metade dos entrevistados levantam da cama às 6h45m da manhã. Daí em diante, continua a reportagem, o trabalho domina o dia da maioria das pessoas. Tempo livre mesmo, somente a partir das 21h, “quando o sono vem”.
Estes números podem nos dizer algo do papel da grande mídia no sistema de dominação brasileiro. A principal fonte de informação continua a ser a televisão, que, como sabemos, está nas mãos dos monopólios que defendem poderosos interesses econômicos.
As longas jornadas de trabalho, mais as muitas horas de deslocamento em transportes públicos indecentes, roubam tempo não só do descanso, do lazer e da educação. Também inviabilizam qualquer atividade associativa e participação política para a grande maioria da população.
Não por acaso o Jornal Nacional atrasou seu início para as 21h, há alguns anos. O objetivo é continuar bombardeando cérebros cansados e entorpecidos com suas informações deformadas e tendenciosas. Depois, já devidamente dopados, os telespectadores são entregues às imagens e sensações da novela até que durmam.
Uma situação como esta mostra que ainda é muito grande o poder dos monopólios da comunicação. O papel das redes virtuais e das mídias alternativas tem sido muito importante nas atuais mobilizações populares. Mas sem a democratização das comunicações, o tempo da maioria de nós continuará sob controle da ditadura da grande mídia.