Entrevista com Eugênio Bucci. Por Rosângela Gil, de Santos, outubro de 2003
O presidente da Radiobrás, o jornalista Eugênio Bucci, falou sobre informação cidadã em evento sobre comunicação, realizado em Santos (SP), no início de outubro. Bucci, que já trabalhou nos jornais Folha de S.Paulo e nas revistas Veja, Sem Fronteiras e Teoria e Debate, falou ao Boletim NPC sobre o que considera informação cidadã, sobre a responsabilidade social das concessões públicas de rádio e televisão.
Eugênio Bucci, que foi professor de Ética Jornalística da Faculdade Cásper Líbero (SP), diz que a informação, no Brasil, precisa ser mais democrática.
Boletim NPC – O que é uma informação cidadã?
Eugênio Bucci – Uma informação cidadã é aquela que ajuda as pessoas a tomarem consciência de direitos, a exercerem seus direitos, tornando-se titulares desses direitos; e também a buscarem esses direitos. Você vai encontrar diversas explicações, diversos tipos de abordagem para isso, mas nós precisamos, dentro de todas essas abordagens possíveis, ter cuidado para não cair numa generalização que acaba não dizendo nada. A informação cidadã precisa se relacionar diretamente com o alcance, o exercício e o entendimento de direitos. Portanto, uma informação sobre entretenimento ou sobre alguma atividade de lazer ou mesmo informações de consumo científico pode se relacionar com as atividades que as pessoas desejam ou querem desenvolver, mas não tocam a esfera dos direitos. Eu separo esta resposta dentro dessa perspectiva, para além dessa perspectiva você pode dizer que a informação cidadã sobre qualquer assunto, em outro nível, é aquela que respeita os direitos dos cidadãos.
Boletim NPC – Qual é a responsabilidade social de quem tem uma concessão pública de rádio ou televisão?
Eugênio Bucci – A mesma responsabilidade que deve ter a empresa que é concessionária de uma linha de um ônibus, por exemplo. O concessionário, frente ao Estado, assume um compromisso que contém uma série de obrigações. No Brasil, a concessão de radiodifusão nem sempre foi entendida como uma área em que a concessão implica em obrigações. Mas isso hoje já está bastante mudado. Os debates sobre a responsabilidade dos concessionários ganharam a cena pública.
Boletim NPC – O que deve ser mantido ou mudado em termos de comunicação, no Brasil?
Eugênio Bucci – Deve ser mantido um parque construído e instalado, que possibilita a circulação de informação impressa, por rádio, por internet; enfim, o Brasil é um país que progrediu na estrutura de comunicação. Deve ser mudado aquilo que restringe o acesso de populações às informações relevantes e aí nós temos práticas antigas que, às vezes, dificultam o entendimento da informação por parte da maioria da população. E isso precisa ser mudado. A informação precisa ser mais democrática no Brasil.
Boletim NPC – Hoje os donos de concessão de rádio e televisão cumprem seu papel social?
Eugênio Bucci – Olha eu creio que em grande parte cumpre sim, mas há problemas que devem ser verificados pelas instâncias competentes. A mim, como servidor público, trabalhando na Radiobrás, não compete fazer esse tipo de avaliação e julgamento.
Boletim NPC – Qual o papel da Radiobrás para a construção de uma informação cidadã?
Eugênio Bucci – Nós (da Radiobrás) temos um papel central. Eu creio que a justificativa da Radiobrás, num regime democrático, passa pela informação cidadã. Ou ela é capaz de proporcionar uma informação a toda sociedade, que tenha qualidade e respeite os direitos e oriente o cidadão no exercício e na busca do entendimento de seus direitos, ou ela não tem razão de existir. E acho que vivemos um momento em que muitos horizontes se abrem no debate público para o aprimoramento da comunicação pública. E a Radiobrás é parte disso. Ela não é a totalidade, nem pretende ser, ela é uma parte que se enquadra nas perspectivas gerais da informação democrática.