O programa 6 e Meia do NPC e apresentado pela jornalista Claudia Santiago e tem o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo. Este programa foi ao ar no dia 29 de abril de 2021.
“Oito em cada dez brasileiros usam o WhatsApp como meio de se informar”
[Por Fabiana Batista*] As reformas do Governo Federal dos últimos anos se juntaram à pandemia e vêm prejudicando cada vez mais a vida do trabalhador brasileiro. Vemos, após aprovação da Reforma Trabalhista, o desmonte de conquistas históricas e os sindicatos tendo que se organizar em torno de pautas que já haviam conquistado.
Em 2020, outra derrota. O governo justifica a MP 936, que permite às empresas reduzir os salários e jornadas dos funcionários ou suspender seus contratos temporariamente, como forma de “livrar” o trabalhador do desemprego. “Nós sabemos que, na verdade, essa é uma forma de colocar os prejuízos da crise na conta do trabalhador enquanto o empresário não tem nenhum”, rebate Natália de Moura, jornalista e responsável pelo Departamento de Imprensa do Sindicato dos Químicos Unificados.
Como forma de enfrentar essa e outras medidas, sindicatos têm reinventado suas comunicações e, com isso, disputam as mentes e corações dos trabalhadores. Além do dos Químicos, este também é o caso do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, que tem o jornalista Rodrigo Correia no Departamento de Comunicação. Eles precisaram reavaliar algumas estratégias usadas antes da pandemia.
Natália e Rodrigo participaram do programa Seis e Meia no NPC e nos contaram como as categorias dos sindicatos em que trabalham se informam. Além disso, falam o que cada um tem usado como ferramenta nessa disputa de hegemonia e se eles acreditam que o jornal impresso já está ultrapassado e que agora é a vez do WhatsApp…
Vem participar deste papo com a gente!
WhatsApp para se informar
Desde 2018, ou até um pouco antes, o aplicativo de mensagens WhatsApp deixou de ser apenas uma ferramenta de comunicação e passou a ser também uma forma de se informar. Através de grupos, links são compartilhados e assuntos variados são debatidos entre familiares, amigos e colegas de trabalho.
Em sua explanação, Rodrigo cita o trabalho de Patrícia Campos Mello, “A máquina do ódio — Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital”: “A pesquisa utiliza dados do Senado que descobriu que oito em cada dez brasileiros usam o WhatsApp como meio de se informar; cinco a cada dez, a TV; e 6%, o jornalão (jornal impresso)”.
Natália explica que a escolha pelo WhatsApp diz respeito à facilidade: “A disponibilidade por pacotes que oferecem gratuitamente o acesso a redes sociais estimula seu uso, porque não se precisa de créditos para circular pelos aplicativos”. Além disso, Rodrigo explica que é mais fácil o trabalhador aguardar que a notícia chegue até ele do que ir atrás dela.
Infelizmente, muitos grupos aproveitam dessa facilidade e da confiança que existe entre pessoas queridas que compartilham entre si links de notícias para disseminar informações falsas, que são rapidamente replicadas sem prévia verificação de sua veracidade.
Aliado a isso, os jornalistas afirmam que os sindicatos ainda precisam encarar a dificuldade de identidade da classe trabalhadora de se autorreconhecer enquanto classe e, por causa disso, não identificar necessariamente os sindicatos enquanto seus aliados. “E aí a comunicação sindical ao tentar rebater informações falsas com dados fidedignos e oficiais, encontra resistência”, desabafa Natália.
Sindicato dos Químicos
“É a partir das redes sociais que conseguimos ouvir o trabalhador e ter uma relação mais próxima”. Natália nos conta que, apesar das problemáticas com o aplicativo, é pelo WhatsApp que o Sindicato dos Químicos tem um canal direto com a categoria, que, inclusive, denuncia os abusos de seus patrões e tira dúvidas sobre seus direitos.
Assim como outros jornalistas que já passaram pelo nosso programa, a equipe de Natália também precisou repensar, no início da pandemia, junto com os dirigentes sindicais, a comunicação e a forma de ter contato com a base. “Nossas assembleias eram sempre cheias. Atualmente, eu monto um spot com áudios dos dirigentes e apenas um vai até a porta da fábrica para escutar os trabalhadores”.
A produção de vídeos se intensificou e os temas abordados nos jornais impressos passaram a ser tratados por eles. Empolgada, a jornalista nos conta que há outras ideias em andamento: “Estamos montando um podcast, pois ele é uma ferramenta maravilhosa. O trabalhador pode ouvir no caminho do trabalho ou em casa, nos afazeres domésticos. Nesse programa queremos adaptar as entrevistas que, antes, faziam parte do jornal impresso”.
Metalúrgicos de São José dos Campos
Apesar da pandemia, o Sindicato dos Metalúrgicos em São José dos Campos e Região não parou de fazer atos de rua. “E a comunicação é um dos instrumentos mais importantes para convencermos cada vez mais pessoas”, relata Rodrigo Correia. Na semana em que participou do nosso programa, as trabalhadoras da LG estavam em greve na cidade de Taubaté. “Apesar de termos mulheres e homens nas fábricas, são as mulheres que produzem os celulares de três montadoras. Já são ao todo 430 trabalhadoras em uma grande mobilização por direitos específicos”, relata o jornalista.
Para o Rodrigo, a comunicação sindical tem um papel fundamental neste momento que o trabalhador vive no país, sobretudo devido aos desmontes dos direitos com a Reforma Trabalhista. “Infelizmente, a atmosfera política contribui para que os trabalhadores fiquem recuados: o Brasil já bate o recorde de 14 milhões de desempregados, a informalidade supera o trabalho formal e a carteira de trabalho já é quase um item de luxo”.
Na disputa de narrativas, a equipe coordenada por Rodrigo produz vídeos, boletins no formato de programa de rádio, lives, e utiliza o WhatsApp para enviar notícias e conversar com a categoria. Segundo ele, “em busca de remar nessa nova dinâmica das redes sociais”, tudo é realizado via internet pelo celular. Além disso, para não perder a veia democrática, o sindicato criou um mecanismo de votação on-line que não exige presença física e pelo qual a categoria consegue participar ativamente dos debates.
O Impresso acabou?
Uma das principais preocupações do NPC é com a triste extinção do jornal impresso em alguns sindicatos. Por isso, em todos os programas perguntamos:
— “E aí, o jornal impresso do sindicato vai acabar?”
Natália e Rodrigo garantem que nos sindicatos onde trabalham, apesar da adaptação para o formato on-line, não há intenção de parar a impressão.
Ambos afirmaram não acreditar no fim do impresso em outros sindicatos, pois é ele que, normalmente, faz o primeiro contato com a categoria. Rodrigo ilustra: “Quantas vezes o sindicato foi até a porta da fábrica para agitar alguma luta e o jornal foi o pretexto para que as pessoas parassem para ouvi-lo?”
Entretanto, os jornalistas assumem que durante a pandemia precisaram adaptar seus impressos para um formato on-line. Em São José dos Campos, o sindicato ainda entregou pequenas tiragens, mas recuou assim que começaram a aparecer números alarmantes de contaminados pela Covid-19. Por sua vez, Natália nos explicou que em Osasco não deixaram de entregar alguns poucos exemplares na porta das fábricas, mas que sua equipe, ao pensar numa adaptação, levou em conta uma nova diagramação.
É preciso ter em mente que as categorias dos sindicatos nos quais Natália e Rodrigo trabalham são tidas como essenciais durante a pandemia e que não há, claro que com muito cuidado e prevenção, em certos momentos, como fugir do bom e velho contato presencial entre sindicato e categoria.
- Fabiana Batista é jornalista
- Edição de texto: Moisés Ramalho, jornalista e doutor em Antropologia.