“RIO, 15 DE JANEIRO DE 1971
Meus caros pais,
Não pude me comunicar com vocês quando do novo ano, faço-o agora com os meus melhores votos de ano-novo pela frente e a felicidade permissível por um sistema intrinsecamente infeliz. Mais um ano de luta, onde estivermos, é o que nós desejamos. Luta que dá sentido à vida para aqueles que não se submetem à ‘tranquilidade’ dos crápulas. (…)
Abracem os amigos e os irmãos.
Para vocês a saudade do filho
Beto”
Carlos Alberto Soares de Freitas, dirigente da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), foi assassinado com um tiro na cabeça, provavelmente em abril de 1971 aos 32 anos, na Casa da Morte, em Petrópolis, Rio de Janeiro, após ter sido preso em 15 de fevereiro de 1971, sendo a primeira vítima a morrer nesse centro de tortura e martírio, aparelho clandestino montado pelo Centro de Informações do Exército (CIE) onde os que pegaram em armas para enfrentar da ditadura eram torturados e abatidos. Carlos Alberto foi visto pela última vez nesse dia pelo companheiro de organização, Sérgio Emanuel Dias Campos, em Ipanema. Ambos haviam retornado de Recife, Pernambuco, onde participaram do Congresso Nacional da VAR-Palmares. Inês Etienne, a única sobrevivente da Casa da Morte e também membro da VAR-Palmares, ouviu do então sargento do Exército Ubirajara Ribeiro de Souza, um de seus carcereiros e, que Carlos Alberto fora um dos prisioneiros da casa: —”Seu amigo esteve aqui”, revelou o torturador. Essa frase tornou-se o título da biografia de Carlos Alberto de Freitas, de autoria da jornalista Cristina Chacel, lançada em 2012, pela Editora Zahar. O Estado brasileiro nunca prestou contas sobre o desaparecimento de Carlos Alberto e seu corpo até hoje não foi encontrado.