Filmes
No sábado, dia 25 de março, o filme “O profeta das Águas” — de Leopoldo Nunes — foi exibido na Fundação Casa de Rui Barbosa, por iniciativa do Conselho Regional de Psicologia. O filme, que ficou pronto após duas décadas de pesquisa, resgata a vida do líder religioso Aparecido Jacintho, hoje com quase 80 anos, e que nos anos 1970 foi preso, torturado e depois internado no Manicômio Judiciário de Franco da Rocha. A obra faz a todos pensar, mas mexe, particularmente, com os sentimentos dos profissionais da psiquiatria e do jornalismo. O primeiro grupo pela cumplicidade covarde e cruel de seus colegas que mantiveram Galdino no manicômio embora de louco ele não tivesse nada. E o segundo, pela decisão de um jornalista Ricardo Carvalho, personagem importante na libertação do líder religioso da prisão, juntamente com Grupos de Direitos Humanos. Também não pode deixar de ser assistido pelos que lutam contra as barragens e pela reforma agrária.
A história narrada se passa no início de década de 70. Naqueles anos, os tentáculos da Ditadura Militar, que governou o país por 20 anos, chegaram a Rubinéria, uma pequena cidade às margens do rio Paraná durante o seu represamento para construção da barragem de Ilha Solteira. Uma cidade cujas ruas tinham nome de poetas. Nela, o líder religioso Aparecido Galdino Jacintho, com um discurso simples mas de clara defesa do direito que os camponeses têm de trabalhar e viver dos frutos do seu trabalho, arrebanhava fiéis e colocava em questão a propriedade de terra.
Galdino organizou um “exército divino” de seguidores, formado por camponeses, para impedir a construção da barragem e a inundação da cidade. O grupo foi brutalmente atacado pelo Exército que prendeu e espancou Galdino e seus seguidores. Sem ter cometido crime algum ou sequer ter tido contato com grupos de esquerda, que lutavam contra a ditadura, Galdino foi preso, torturado e depois internado no Manicômio. Leopoldo Nunes, militante da luta antimanicomial, participou de debate com a platéria após a exibição. Para fazer o filme, o diretor se debruçou sobre documentos históricos de arquivos da justiça comum e militar e arquivos do hospital psiquiátrico. O filme tem depoimentos de ex-fiéis de Galdino, ex-vizinhos e também de pessoas que fizeram parte desta nossa história recente. Dom Paulo Evaristo Arns, José de Souza Martins, Percival de Souza e do jornalista Ricardo Carvalho.