O Documentário “Minha Perna, Minha Classe – A trajetória de Manoel da Conceição”, de Arturo Saboia, está no Youtube. Mané é o camponês do Maranhão, membro da Assembleia de Deus, que foi alfabetizado pelo MEB, da igreja católica, e se tornou revolucionário da Ação Popular. Fundou o primeiro Sindicato de Trabalhadores Rurais do Maranhão, em Pindaré Mirim. Foi fundador do PT e da CUT. Morreu em 18 de agosto de 2021. Em 1969, a PM invadiu o Sindicato Rural e o líder foi baleado no pé. Acabou perdendo a perna.
Não deixe de ver o documentário que tem produção de Cássia Melo, Climax Filmes e 8ito Projetos Criativos. A pesquisa de conteúdo é de Camila Portela, direção de fotografia de Elder Canedo, e Cleide Cantanhêde e Gabriel Marques como diretores de produção.
A seguir texto emocionante de João Carlos Lopes, Militante do Movimento de Comunidades Populares (MCP):
“Tirem uma hora e meia para assistir a esse documentário”
[Por João Carlos Lopes*] É uma hora e meia sobre Manoel da Conceição, o camponês do Maranhão, membro da Assembleia de Deus, que foi alfabetizado pelo MEB, da igreja católica, e se tornou revolucionário da Ação Popular. Fundou o primeiro Sindicato de Trabalhadores Rurais do Maranhão, em Pindaré Mirim, próximo de Santa Inês. Manoel da Conceição organizou milhares de camponeses em defesa da terra e da produção de arroz nos povoados, de forma coletiva. A luta era para se defender dos latifundiários que soltavam o gado para comer a roça de arroz dos lavradores. O objetivo era expulsar os camponeses para o fazendeiro ficar com as terras.
Os jagunços dos fazendeiros usavam de muita violência contra o povo. E, em um desses conflitos, Manoel da Conceição perdeu uma perna. Foi então que José Sarney, que era governador do Maranhão na época, lhe ofereceu uma perna mecânica e emprego no governo para ele e sua família. Manoel não aceitou e respondeu:
— “Minha perna é minha classe!”
Em 2015, por ocasião do nosso 5°Seminário Nacional, nós, do Movimento das Comunidades Populares (MCP) do Maranhão, ficamos com a tarefa de apresentar as experiências de poder popular dos camponeses. Foi aí que, com a ajuda da companheira Maria, de Imperatriz, visitamos o lendário Manoel da Conceição.
Não contive as lágrimas. Foi um momento tão importante na minha vida, só comparável quando, em 1992, visitei, com o companheiro Toninho, a dona Jacira, trineta de Tiradentes, em Minas Gerais.
A partir dessa visita à Manoel da Conceição, fizemos um estudo profundo da experiência dele e de Luiz Vila Nova, seu companheiro de luta. Escrevemos textos, fizemos peças de teatro, ensaiamos cantos e realizamos um Seminário Estadual, tudo em preparação ao Seminário Nacional, que se realizou em fevereiro de 2016, em Feira de Santana (BA).
Como Manoel da Conceição não poderia vir à Bahia por motivos de saúde, em janeiro de 2016, na sede do MCP de Imperatriz, na Vila Cafeteira, fizemos nossa homenagem a esse grande homem. Senti-me realizado, porque, assim, estaria agradecendo à AP, da qual Manoel da Conceição era um dos Dirigentes Nacionais, junto com o dr. Celerino, em 1969, quando nosso Movimento foi gestado com a ajuda da AP.
Portanto, sugiro que os companheiros tirem uma hora e meia para assistir a esse documentário até o fim, para ver quais eram as dificuldades que os militantes enfrentavam para servir ao povo naquela época e, assim, comparar com as dificuldades de hoje.
(*) João Carlos Lopes nasceu em Sananduva, no Rio Grande do Sul, em 1952. Militante desde 1969, atuou no Movimento popular, operário e camponês no Rio Grande do Sul, São Paulo e estados do Nordeste, sendo perseguido e processado pela Ditadura Militar entre 1972 e 1974. Hoje, é metalúrgico aposentado e militante do MCP e do Jornal Voz das Comunidades. Atualmente mora em Feira de Santana, na Bahia.
Assista ao documentário.