O neoliberalismo e as intervenções estadunidenses
Outra característica das ditaduras latino-americanas é seu caráter neoliberal e uma herança de disseminação das desigualdades. No Chile, de acordo com o relatório World Inequality de 2022, 1% das pessoas mais abastadas do país concentram 49,6% de toda a riqueza. No Brasil aumentou a desigualdade entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Segundo a FAO, 118 milhões de pessoas passam fome na América Latina. No Haiti, com uma população de 11 milhões, 5 milhões passam fome.
O governo dos Estados Unidos apoiou de forma pública o golpe no Chile em 1973, comportamento repetido com outras ditaduras na América Latina desde os anos 1950. Até hoje o país continua apoiando intervenções militares (por vezes disfarçadas de ações humanitárias) em vários países do mundo.
Na América Central o fantasma de uma nova intervenção militar ronda o Haiti, país que já viveu diversas interferências desde a ocupação estadunidense em 1915. Mesmo em um cenário de crise social, política e econômica, as mais de 20 organizações ouvidas pelo Brasil de Fato no país foram unânimes em rejeitar a possibilidade de uma nova intervenção militar estrangeira e indicam que o povo haitiano não é um povo que está desesperado, é uma gente que está lutando.
Nesse cenário, o Brasil voltou a cumprir um papel de liderança no continente que contribui para quebrar o “destino inevitável” da dependência dos países latino-americanos. Sobre mudanças e resistência a América Latina pode ensinar ao mundo como “um povo sem pernas, mas que caminha”.