A cobertura da imprensa ao cerco realizado pelo Exército e Polícia Militar a comunidades cariocas desde o início do mês, sob a justificativa de recuperar 11 armas roubadas de uma unidade do Exército em São Cristovão, seguiu mais uma vez o velho modelo de criminalização da probreza ‘guerra-inimigo-favela’. “Nesta concepção de segurança pública, há uma guerra e um inimigo claro a ser eliminado. O inimigo é a favela, como um todo. A favela torna-se um espaço a ser combatido”, explica Marcelo Freixo, coordenador do Centro de Justiça Global, ouvido pelo BoletimNPC. Os jornais, TVs e rádios destacaram durante toda a primeira quinzena de março as provocações dos traficantes, que formavam barricadas logo após a saída das tropas de um determinado posto.
A maior de todas as provocações, no entanto, foi lembrada apenas por meios como a revista CARTA CAPITAL, que destacou na edição 384: “O canhão [um tanque ‘Cascavel’] foi uma idéia infeliz de demonstração de força que se transformou numa provocação. A provocação, por um princípio instintivo, gera provocação. Na Mangueira ou no centenário e histórico morro da Providência (a primeira favela da cidade, formada por sobreviventes de Canudos), crianças inofensivas (…) reagiram com zombaria. Uns marchavam com quepes de papel na cabeça, outros faziam largos gestos obscenos e desafiavam os soldados que, por sua vez, nada podiam fazer”. Longe de ficar claro – e a imprensa de grande circulação ajudou a obscurecer – era a relação dessas comunidades com as armas roubadas. Segundo o Ministério Público Militar (MPM) os responsáveis por tramar e executar a invasão ao Estabelecimento Central de Transportes (ECT) do Exército foram… militares.
(Por Gustavo Barreto)