Deu nos jornais e nos noticiários de TV. E não foi no Zorra Total nem na TV Pirata. George Bush e sua tropa querem que a tal Cúpula das Américas, em Monterey, 2004, focalize sua atenção em duas liçõezinhas, nas quais, na sua opinião, os latino-americanos são alunos muito fracos: corrupção e eleições “transparentes”. Devo estar distraído, mas não me lembro dessa mídia ter notado uma coisinha engraçada. Imaginem o seguinte.
Para o primeiro tema, corrupção, poderiam convidar o vice ianque, Dick Cheney: ele poderia expor como os executivos de corporações do petróleo e da energia utilizam cargos políticos para enriquecer. Nem precisaria fazer esforço: basta que ele se lembrasse de sua própria biografia.
Melhor, impossível.
Para o caso das “eleições transparentes” eles poderiam promover um debate instrutivo sobre o modelo norte-americano de fraudar contagens. O próprio Bush poderia ser responsável por essa aulinha. Mas, essa estória não é nova. Democratas ou republicanos, as autoridades ianques sempre difundiram essa imagem dos latino-americanos. No começo do Século Wodrow Wilson, humanista e caridoso, dizia que pretendia “melhorar” os “irmãos” latinos e “ensiná-los a votar”. Agora vem o Bush, não tão humanista nem tão caridoso, com a mesma lenga lenga. É a cabeça deles, o modo como eles vêem o mundo. O problema é que a “nossa” imprensa (nossa?) não tem cabeça para tocar nisso. Ou melhor, talvez
tenha cabeça… uma que também pensa assim, como os nossos grandes irmãos do norte.
(por Régis Moraes, de São Paulo)