Sérgio Kalili não foi ao Iraque só para trabalhar. “Eu escolhi o povo iraquiano”, diz o repórter que questiona um preceito basilar do jornalismo contemporâneo: ouvir o outro lado. Heresia, dirão alguns; hipocrisia, responderá. “Sou antiadministração Bush e a política de desinformação da administração Bush. Sou contra a política externa americana, que fica brincando no mundo como se fosse um jogo de xadrez. Sou antiimperialista, antiglobalização, que faz a gente ter desigualdade”. 

 

Kalili passou cerca de setenta dias no Oriente Médio, como correspondente do site AOL, no Iraque e no Irã, e da revista Reportagem (de Raimundo Pereira, ex-diretor dos jornais Opinião e Movimento), no Irã. Escreveu também para a revista Caros Amigos.

 

O único correspondente brasileiro a demorar-se no Iraque, em meio à ocupação americana, percorreu as localidades de Bagdá, Tikrit, Falluja, Samarra e Najaf, entre outras. A foto ao lado, de sua autoria, mostra uma pausa “turística” dos soldados americanos no esconderijo de Saddam Husseim.

 

Cobriu também o terremoto na cidade iraniana de Bam. Aproveita a entrevista para fazer um reparo: “A gente tem que acabar com essa história de que o iraniano é fundamentalista, fanático. Isso é uma outra mentira. Tem iraniano que é menos religioso do que muita gente aqui. Tem gente que nem vai à mesquita. É como qualquer outro país. Só que eles são um país islâmico, nós somos um país católico”.

 

Entrevistou guerrilheiro no Iraque; no Irã, fingiu que era casado para poder ficar no hotel, onde dividiu a cama de casal com uma repórter-fotográfica americana.  

 

Voltou ao Brasil no domingo. Hoje (08/01) faz 35 anos.

 

Kalili considera-se um “jornalista de direitos humanos, de casos sociais”. Por quê?, pergunto eu. “Por causa dos temas humanos que escolho. Violência urbana no país, fome no mundo, miséria no Vale do Ribeira, a juíza ameaçada em Patos de Minas porque estava tentando buscar justiça para os trabalhadores rurais, o médico que era chamado de Dr. Quixote porque lutou contra toda a categoria dele, contra uma coisa chamada Máfia de Branco”.  

 

Mas jornalista não deveria mesmo se ocupar dessas coisas? “Seria legal se todos os jornalistas tivessem um perfil mais humano, mas a gente também precisa de jornalista em outras áreas, senão ia ficar muito chato”.

 

Ele é filho de Narciso Kalili, grande repórter da revista Realidade, na década de 60, um dos melhores textos do jornalismo brasileiro. O pai se foi em 1992. O filho tem-no como exemplo moral, como você verá logo mais.

  (Por José Paulo Lanyi. Não deixe de ler  a entrevista com Sérgio Kalili em nossa página: www.piratininga.org.br ).