NOVA YORK. Visto recusado, prêmio devolvido. O cineasta curdo Bahman Qobadi, diretor de “Tempo de embebedar cavalos” e de “Abandonado no Iraque” devolveu o prêmio que lhe foi conferido pela 38 edição do Festival Internacional de Cinema de Chicago, por não ter obtido visto para entrar no país e receber o prêmio. O incidente aconteceu há pouco mais de duas semanas, depois que o também cineasta iraniano Abbas Kiarostami deixou de participar do Festival do Cinema de Nova York, pela mesma razão.
— O que fizeram com Kiarostami é terrível. Ele é um diretor famoso e não merece isso — disse ontem Qobadi em Teerã. — Com muitos agradecimentos aos organizadores do festival, estou devolvendo o prêmio ao governo americano, para lhe ensinar como respeitar artistas.
“Abandonado no Iraque” recebeu a Placa de Ouro do festival. No Festival de Cannes do ano retrasado, “Tempo de embebedar cavalos” levou o prêmio Câmera de Ouro, dado ao melhor filme de diretores estreantes. Na edição de 1997 do mesmo festival, Abbas Kiarostami ganhou o prêmio máximo, com “Um gosto de cereja”.
Seu novo filme, “Dez”, foi exibido no festival de Nova York no fim do mês passado. Kiarostami tem 62 anos e esteve nos Estados Unidos sete vezes.
Depois de ter solicitado o visto em Paris, já que os Estados Unidos não dispõem de serviço diplomático no Irã, Kiarostami foi informado que o processo levaria três meses, para que sua folha corrida pudesse ser checada.
Tal é a ordem em vigor no país, em função dos atentados de 11 de setembro do ano passado. Ela visa a selecionar com mais rigor viajantes de países muçulmanos e árabes. O Irã foi apontado pelo presidente George W. Bush como integrante do que chamou de “eixo do mal”.
(Toni Marques – Correspondente – O Globo)