Qualquer um que saiba minimamente como funcionam as redações dos jornais comerciais consegue imaginar as orientações recebidas pelos repórteres que fazem a cobertura do PT. “Vá lá e consiga alguém da Articulação para dizer que os “radicais” serão expulsos a qualquer sinal de descontentamento. E arranque do deputado Babá (PA) ou da senadora Heloísia Helena (AL) alguma declaração bombástica contra a política econômica do governo Lula. E alguns repórteres, como “cães de guarda” bem treinados, vão lá e cumprem esse papel sujo. Foi isso o que se viu na cobertura da reunião da direção do Diretório Nacional do PT no dia 15 de março, feita pelo jornal O Globo. O adjetivo radical é usado 12 vezes em uma só página na edição de domingo, dia 16/3.

Não conseguindo nada de Babá ou Heloísa apelaram para a deputada Luciana Genro (RS) que nada mais fez do que exercer o seu direito de dizer que não fora convencida pela explanação do ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Espera-se que repórteres destacados para cobertura de uma atividade desta importãncia, conheçam o PT. Não é o caso. Ao classificar Luciana como participante da DS, mostraram total ignorância sobre a política no Rio Grande do Sul.

Do lado do campo majoritário também tiveram dificuldades. Nesta reunião, nenhuma declaração de Lula, Genoíno ou José Dirceu deixaram transparecer animosidades para com as correntes minoritárias do partido, segundo fica evidante no próprio jornal. Ao contrário: as palavras usadas foram unidade, tranquilidade interna e franqueza. O chefe da Casa Civil e ex-presidente nacional do PT chegou a afirmar que “é preciso humildade para ouvir os companheiros e corrigir os erros”. Por isso, a sua fala não serviu para ser destacada. Preferiram o presidente da Câmara João Paulo Cunha. O texto com o deputado é intriga pura. Diz que João Paulo desafiou e se irritou.

Na edição de segunda-feira, enfim, uma vitória da redação de O Globo. Sob o título de “Enquadramento radical” os repórteres conseguiram ouvir a prefeita de São Paulo Marta Suplicy dizer que o campo minoritário, composto por pessoas como Chico Alencar do Rio de Janeiro, Valter Pomar, Raul Pont, Ivan Valente e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, entre tantos outros não vão para o PSTU porque lá não teriam holofotes. Esquece-se a prefeita que eles estão no PT desde o tempo em que os holofotes eram completamente negados aos que se dedicam às lutas da classe trabalhadora.

Na edição de segunda, o termo descontentes substitui radicais. Pode ser que os autores da matérias tenham sido chamados à atenção por terem abusados do adjetivo radical na edição de domingo. Na segunda, o mantiveram no título, mas o que abundou no corpo da matéria foi o também adjetivo descontente.

O que quer o jornal O Globo?

A pergunta que precisa ser respondida é mais velha do que andar para frente. A quem interessa incentivar a luta interna dentro do Partido dos Trabalhadores, o partido do presidente da República? A quem interessa jogar a sociedade contra as correntes políticas do campo minoritário do partido? A quem interessa afastar  os movimentos sociais do governo Lula? A quem  interessa deturpar o sentido da palavra radical? A quem interessa fazer a sociedade acreditar que as exigências do FMI são ótimas e que elas desagradam apenas a um punhado de radicais? Cada um que busque suas respostas. Para mim é simples. Interessa aqueles que acham que povo é feito para morrer, pouco importa se de AIDs, na África, de bomba no Iraque ou de tiro ou fome nas favelas do Brasi.

                                                                                                                                                  (por Claudia Santiago)