Caracas – O prefeito do distrito metropolitano de Caracas, Alfredo Peña, de oposição ao governo de Hugo Chávez, mandou fechar a sede da Catia TV, a mais importante estação comunitária da Venezuela, na quinta-feira, 10 de julho. A alegação de Peña é que os estúdios provisórios da TV situavam-se no Hospital Lidice, pertencente à prefeitura. O direção do hospital cedia de fato um pequeno espaço para abrigar a emissora.

Catia TV é uma estação legalizada pela Conatel (equivalente venezuelana da Anatel) e tem este nome por situar-se no bairro popular de Catia, um dos mais populosos de Caracas. Blanca Eekout, 32, diretora da emissora, afirmou ser esta “uma violação dos direitos da comunidade e Peña, um ex-jornalista, (que) se converteu no primeiro censor da Era Chávez”. A emissora jogou um papel fundamental na mobilização popular durante o golpe que afastou Hugo Chávez do governo por três dias, em abril de 2002.

A oposição venezuelana tenta recobrar a ofensiva após os sérios reveses que sofreu por conta de seu empenho no locaute que paralisou o País no início do ano. Um de seus dirigentes, o jornalista Teodoro Petkoff, reconhece que o setor está agora muito dividido.

 

Projetos populares
O gesto de Peña acontece ao mesmo tempo em que ganham corpo dois projetos do governo para as populações pobres: o “Plano Robinson”, de alfabetização intensiva, e o “Programa Bairro Adentro”. O primeiro visa erradicar totalmente o analfabetismo no País, hoje ao redor de 8%. O segundo pretende estender o atendimento público de saúde às populações que nunca tiveram acesso ao serviço.

Para isso, a administração federal realizou um chamado para que médicos venezuelanos aderissem ao programa, fixando-se nos bairros pobres e convivendo com sua população. Apenas 35 atenderam ao chamado. “Prevalece aqui uma visão mercantilista da medicina”, diz Rafael Vargas, coordenador do projeto e cotado para assumir o Ministério da Saúde.

 

Acordo com Cuba
O governo, então, baseando-se num acordo de intercâmbio firmado com Cuba, chamou médicos daquele país. Chegaram mais de 700, nos três primeiros meses. A imprensa voltou a deflagrar uma intensa campanha conta o governo, acusando os programas de serem “doutrinários” e que Chávez promoveria a “cubanização” da Venezuela. No entanto, seis deputados do Parlamento Europeu, que estiveram em Caracas durante toda a semana, conversando com governo e oposição, constataram não haver nada que indique algo nesta direção.

 

Mesmo na tecla que a imprensa mais bate – atentados ao direito de informação – nada foi constatado. A não ser pelo fato de que a única censura aos meios de comunicação tenha partido da oposição, lembra Maximilian Arvelaiz assessor da Presidência da República.

(Texto de Gilberto Maringoni para Carta Maior)