Entrevista com Vito Giannotti: Por Rosângela Ribeiro Gil
Estamos na semana do Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março. E para falar sobre a data entrevistamos um homem maravilhoso (será que ele é machista?), um revolucionário que tem no sangue o mundo sem explorados e exploradores. Com vocês, Vito Giannotti, ex-ferramenteiro de São Paulo, autor de vários livros sobre comunicação sindical e linguagem, italiano que adotou o Brasil de corpo e alma.
O que significa, para você, o Dia Internacional da Mulher?
Vito Giannotti – É a ocasião de levantar o tema da situação da mulher. A maioria das mulheres vive, ainda, numa situação de dominação e opressão específica. Claro que a principal contradição, na nossa sociedade, é a situação de exploração devido à estrutura capitalista na qual vivemos e mais ainda, hoje, na situação de domínio neoliberal. Claro que este fato determina toda uma estrutura absolutamente injusta de exploração, opressão, dominação e discriminação de qualquer homem e mulher que não seja da classe dominante.
Mas, ao lado disso, temos uma situação histórica concreta que faz com que as mulheres da classe trabalhadora, do povo, sejam duplamente oprimidas, exploradas, controladas, esmagadas e castradas. São elas as primeiras a pagar a conta da situação de exploração da classe. Elas que carregam um peso de séculos e milênios de humilhação, superexploração e opressão que lhe são específicas. É a mulher que aparece por aí de olho roxo, como vimos nas páginas dos jornais cariocas no dia 1º de março. Uma mulher apanhou do marido porque ele se irritou com o trânsito. Quantos casos como esses temos notícias no nosso dia-a-dia? É a mulher que, em 99% dos casos, acorda de noite para cuidar do filho doente. É ela quem o leva para o posto de saúde e, conseqüentemente, perde o emprego. É ela que vai às reuniões na escola do filho.
O dia da Mulher é a ocasião de refletir sobre tudo isso. Ajuda a colocar um problema que durante o ano todo, na maioria dos casos, é relegado ao décimo lugar das prioridades da luta social. O 8 de Março propicia esta discussão. Agora, se não se tomar cuidado, o 8 de Março vira mais um dia com o objetivo de aquecer as vendas do comércio como o dia das mães, dia dos namorados etc. Já encontramos sindicatos, movimentos sociais e ONGs (Organização Não-Governamentais) que, pensando em fazer algo para o Dia da Mulher, resolve distribuir rosas. Na minha opinião, isso é o mesmo que dar uma panela de pressão ou um liqüidificador para a mãe, no Dia das Mães. O 8 de março é para reafirmar a luta da mulher por sua total libertação de todos os jugos: do patrão, do pai, do marido, das proibições culturais e religiosas.