Três multinacionais, entre elas a Faber-Castell, estão envolvidas em denúncias de uso de mão-de-obra infantil
Proponho um exercício de memória. Lembre-se de sua infância e de como era bom pintar e desenhar. Provavelmente, a primeira imagem que veio à mente foram os tão coloridos lápis-de-cor. E, certamente, a marca Faber-Castell. Agora, como ficaria essa imagem se eu dissesse que essa indústria, que fabrica objetos para a diversão das crianças, utiliza a mão-de-obra de muitas outras no processo de produção?
A denúncia foi feita durante o lançamento do nono número da “Observatório Social em Revista”, no dia 9 deste mês, em Brasília. O Instituto Observatório Social realizou um estudo sobre a exploração da mão-de-obra infantil em Mata dos Palmitos, comunidade de cerca de 300 pessoas na zona rural de Ouro Preto (MG). A Faber-Castell, Basf e ICI Paints são as três multinacionais envolvidas no processo, pois compram talco das empresas Minas Talco e Minas Serpentinito, que utilizam crianças na mineração da pedra-sabão.
A pedra-sabão é usada em remédios, tintas, cerâmica de naves espaciais, cosméticos, borrachas, papéis, sabão e lápis escolares. O talco produzido a partir da pedra-sabão contém amianto, material proibido em diversos países devido aos prejuízos que causa à saúde. A inalação desse produto pode provocar câncer de pulmão, da pleura (membrana do pulmão) e do peritônio (membrana interna do abdômen).
Quem diria, não é mesmo? Uma verdadeira contradição! As cerca de trinta crianças do local começam a trabalhar a partir dos cinco anos de idade e exercem atividades como carregar pedras ou esculpir pedra-sabão (elas cortam, talham e lixam o minério). Mais grave ainda é a falta de acompanhamento médico para os trabalhadores, tanto crianças, quanto adultos.
O estudo foi apresentado aos envolvidos e (pasmem) todas disseram repudiar a utilização da mão-de-obra infantil. A Faber-Castell comunicou o cancelamento do contrato com a Minas Talco. A Basf e a ICI disseram que iriam averiguar a denúncia e, caso fosse comprovada, tomariam as providências. A Minas Talco e a Minas Serpentinito afirmaram que a acusação foi um equívoco.
O Instituto Observatório Social foi criado há sete anos, com a iniciativa da Central Única dos Trabalhadores (CUT), com o objetivo de fiscalizar empresas nacionais e multinacionais por meio de pesquisas sobre a mão-de-obra utilizada em suas cadeias produtivas.
(Por Lívia Cabral – www.fazendomedia.com)