“Diários de Motocicleta”, do brasileiro Walter Salles, levou apenas o prêmio do Júri Ecumênico do Festival de Cannes 2004. A principal premiação da competição foi para o cineasta americano Michael Moore, com o documentário “Fahrenheit 9/11”.

Não importa que o Brasil não tenha levado o prêmio. O filme sobre o nosso latino Che é lindo. Revelador, principalmente para o público mais jovem, que foi ensinado a comparar comunismo com nazismo e a chamar Fidel Castro de ditador.

Sem falar no outro aspecto. Na profunda identidade que cria entre todos nós, latino-americanos. Embora os brasileiros estejam na obra apenas através dos olhos do diretor, já que o Brasil não esteve no percurso da viagem, aqueles argentinos, chilenos e peruanos estão dentro de nós.

Não deixe assistir “Diários de Motocicleta”. Mas não deixe de se fazer acompanhar por filhos, sobrinhos, netos, filhos dos vizinhos. É bom que eles saibam que é possível ter valores inversos ao individualismo, ao consumismo, ao egoísmo, à mentira e ao medo.

Para o jovem, em especial o de classe média alta, que faz passeata contra as cotas nas universidades públicas, como aquela protagonizada por alunos de escolas da Zona Sul do Rio no dia 21 de maio de 2004, é uma obra essencial. Quem sabe possa ser um contra-veneno.

A vitória de Moore também é nossa
Por outro lado, a vitória de Michael Moore, com o seu “Fahrenheit 9/11”, é também uma vitória nossa. De todos os que, como dizia Ernesto Guevara, continua se indignando frente às injustiças. De todos os que nos últimos dias sentem como sua a dor dos prisioneiros iraquianos e das crianças palestinas, baleadas em manifestações pacíficas por tanques e balas irmãs daquelas dos EUA contra o Iraque.