Por Mariana Vidal – vidal@fazendomedia.com
Uns paravam no meio do caminho para tomar fôlego, outros se juntavam em grupos para comentar aquele absurdo, mas a vontade era mesmo de denunciar, de parar os carros na Rua Senador Vergueiro e avisar às pessoas que não estavam naquele cinema, que campo de concentração ainda existe e não é fruto de uma Alemanha nazista, é do atual governo dos EUA.
O filme “O Caminho para Guantánamo” é belíssimo, é vivo; daqueles que você não consegue se desvencilhar da tela um minuto. Não por acaso os ingleses Michael Winterbottom e Mat Whitecross ganharam o Urso de Prata de melhor direção no Festival de Berlim deste ano.
Trata-se da história real de quatro amigos britânicos de origem paquistanesa que decidem sair da Inglaterra e voltar ao Paquistão para celebrarem o casamento de um deles. Numa mesquita do Paquistão, eles são convencidos pelo líder religioso de que deveriam ir ao Afeganistão prestar ajuda humanitária aos irmãos muçulmanos. No Afeganistão são feitos reféns pelo regime talibã e, posteriormente, três deles são capturados pelas tropas estadunidenses, que os mandam para Guantánamo, onde são torturados por dois anos.
Mas apesar da sensação de impotência que se segue à vontade de “fazer alguma coisa pra mudar” e do choque que muitos levaram ao ver “O Caminho para Guantánamo”, felizes são aqueles que viram este filme, pois muitos ali sequer sabiam da existência dessas bases militares que os EUA mantém em Cuba.
Nossa mídia não divulga quase nada sobre Guantánamo ou sobre outro crime de guerra dos EUA (e exemplo é o que não falta). Livros como “Guantánamo – Prisionero 325, Campo Delta” (Editora EDAF), testemunho escrito pelo ex-prisioneiro Nizar Sassi, chegam em Porto Rico, Chile, Argentina, Espanha e México, mas não são lançados no Brasil.
E até mesmo esse filme só foi possível ser visto no Festival do Rio 2006 (já que ele não tem previsão de chegar às telas do grande circuito), com poucas sessões, sem direito ao “última chance” (espécie de repescagem, quando alguns filmes são selecionados para exibição após o término do Festival) e sem figurar na lista dos mais vistos no Festival.