“O que está em jogo não é o combate ao crime. O que está em jogo é o controle do gueto”
Por Marcela Figueiredo
Marcelo Freixo, pesquisador do Centro de Justiça Global, historiador e deputado estadual (PSOL-RJ), foi um dos palestrantes do 3º dia do curso anual realizado pelo NPC. Durante sua fala, o deputado estadual eleito no Rio de Janeiro abordou fatos relativos ao que hoje a mídia e alguns governantes costumam chamar de política de segurança pública.
Freixo, com toda sua experiência na área – participação no movimento social e trabalho de educação e assistência aos internos do sistema penitenciário – e também muitas críticas a forma de atuação da polícia carioca, manifestou sua indignação em relação ao tratamento dado à população pobre: violento, agressivo e humilhante.
Explicou para os companheiros da platéia, pois muitos não eram do Rio, o que hoje é conhecido nas comunidades pobres como “Caveirão” – carro blindado da polícia que tem na frente o símbolo de uma caveira com um punhal e também fala frases como: “Sai da frente. Quero roubar sua alma”. Muito indignado Marcelo Freixo propôs que tal carro da polícia ficasse duas horas na AV. Vieira Souto (lugar nobre do Rio) falando os mesmos absurdos que fala nas favelas. Assim a sociedade conheceria qual a possibilidade de segurança pública que os menos favorecidos economicamente têm.
O palestrante sugeriu também, visto o mau julgamento que parte da sociedade faz dos moradores de favela, discriminatória e preconceituosa, que eles, os moradores, ficassem um dia sem descer do morro. Dessa forma muitas pessoas iriam se dar conta de que na favela também morram pessoas honestas. Não apenas bandidos. Muitas dessas pessoas trabalham nas casas luxuosas da cidade, no comércio, enfim, elas conhecem a cidade, suas diferenças e contradições. Mas em muitos casos a cidade não as conhece, ou finge não conhecer. Dessa forma, fazem comentários e praticam ações desrespeitosas.
Após o termino da palestra e do debate uma última pergunta foi feita a Marcelo Freixo levando em consideração que nos bailes funks realizados nas favelas a maior parte dos freqüentadores são pobres e já nas festas raves e micaretas os freqüentadores, em sua maioria, são jovens de classe média, visto o valor dos ingressos – o mais barato não sai por menos de 50 reais.
BoletimNPC: Marcelo, tanto nos bailes funks quanto nas festas raves e micaretas o consumo de drogas é muito grande. Apesar dessa igualdade, a atuação da polícia é bem diferente dependendo do lugar. Por quê?
Marcelo: O que está em jogo não é o combate ao trafico. O que está em jogo não é o combate ao crime. O que está em jogo é o controle do gueto. É o controle da população pobre. A polícia não tem pretensão de acabar com o trafico. Ela sabe que não é isso. Ela entra para manter a favela onde é a favela. Ela entra pra controlar a pobreza. Quando ela quer combater o tráfico na classe média ela investiga o comércio, ela vai aos setores de inteligência. Por que não faz isso na favela? Porque não é o trafico que ela esta combatendo. O que esta em jogo é o controle social. Não é o combate ao crime. Essa é a grande diferença.