O jornal O Globo, dia 9 brindou seus leitores com meia capa e mais seis páginas sobre a “Barbárie contra a infância – Morte de menino arrastado em carro roubado por bandidos causa comoção e revolta”. Á noite do mesmo dia, a novela Páginas da Vida mudou o seu script.
Foi incluída a cena na qual três freiras, chorando e rezando, com o jornal O Globo na mão, comentam a “barbárie” relatada no jornal. Quem quer a campanha pela redução penal está feito e satisfeito. Outros jornais cariocas, como o Jornal do Brasil foram mais longe ainda. Sua manchete, no mesmo dia, apontava claramente para o linchamento ou qualquer outra coisa a ser feita com aqueles adolescentes.
O comportamento destes veículos e dos outros, na mesma toada, não é simples coincidência. É mais um exemplo de como age a direita. As freirinhas na novela, as capas e rios de páginas dos jornais se encaixam numa campanha para aterrorizar a população para que ela só pense nisso. Só fale da violência e esqueça todos os seus problemas.
As vítimas desta campanha ideológica não terão cabeça para pensar nos problemas do estado da Saúde no Rio que é um caso de verdadeiro genocídio. E as estatísticas sobre a piora do nível do ensino no País. Quem lembra delas? Estas não são verdadeiros casos de barbárie? Não mereceriam um exército de freiras na novela rezando mil Pai Nossos?
Mas, para quem manteve sua hegemonia político-ideológica durante 500 anos, o que conta é criar, cultivar e aumentar a neurose da violência urbana e assim fazer esquecer tudo o resto.
Em Tempo: E cadê uma palavra sobre as causas desta violência?
1. Por que esses meninos fizeram aquele assalto?
2. Qual a relação entre toda a propaganda de carros, celulares, tênis, roupas de marca veiculada por todos os canais de TV e os roubos e assaltos?
Disputa de hegemonia é isso: colocar três freirinhas na novela e continuar a fazer cabeça de milhões. E daí? Cadê nossa disputa contra-hegemônica? Cadê nossa mídia?
[Por Vito Giannotti – 10.02.2007]