Kjeld Jakobsen, secretário nacional de Relações Internacionais da CUT
“Atividade mais importante da década”
Kjeld fala nesta entrevista, suas impressões sobre o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, de 25 a 30 de janeiro
Por Claudia Santiago
Conquista – Se você tivesse que resumir em quatro palavras o encontro de Porto Alegre, quais seriam essas palavras?
Kjeld Jakobsen – Atividade mais importante da década.
C – Uma das frases mais ouvidas foi: “um outro mundo é possível”. Como você definiria este novo mundo?
Kjeld Jakobsen – Um outro mundo onde as pessoas e seus direitos e interesses venham em primeiro lugar. Onde as pessoas possam se expressar livremente. Onde a democracia seja um fato e não um discurso. Onde não falte o mínimo para as pessoas viverem. Onde todos tenham acesso à educação, saúde, moradia e cultura. Onde as crianças possam brincar e estudar sem terem que trabalhar e onde os idosos possam viver sua aposentadoria dignamente. Onde as mulheres, negros(as), indígenas e homossexuais tenham seus direitos preservados sem sofrer discriminações. Onde os portadores de deficiências tenham também seu espaço.
C – Jornais de esquerda da Europa definiram o FSM como um encontro contra o neoliberalismo. Você acha que esta foi a tônica?
Kjeld Jakobsen – Sem dúvida foi um encontro contra o neoliberalismo, mas também de discussão de alternativas e estratégias de enfrentamento ao mesmo.
C – Você concorda que, com esse encontro, nasceu o que poderia ser chamado de Internacional Antineoliberal?
Kjeld Jakobsen – Acho que não chega a tanto. Se compararmos com a situação política brasileira de vinte anos atrás, nós tínhamos uma grande frente contra a ditadura militar e pelas liberdades democráticas. Quando estas foram minimamente conquistadas, a frente se desfez, pois cada setor tinha interesses particulares. É muito provável que no dia em que o neoliberalismo for derrotado, não consigamos manter o Fórum, pois ele terá cumprido o papel para o qual foi criado.
C – Há interpretações do Encontro que dizem que o FSM mostrou que este seria o momento das ONGs e de movimentos amplos e menos antagônicos do que partido e sindicatos. O que você acha?
Kjeld Jakobsen – Sindicatos e partidos tradicionalmente representam setores estruturados e organizados da sociedade. As ONG’s e outras Organizações Sociais vão além, dialogando e organizando os setores menos estruturados ou os que apresentam demandas diferentes das que nós normalmente lidamos. Esta é a novidade e isto não tem nada a ver se um tipo de organização é mais ou menos antagônica que a outra frente ao capital. Trata-se mais de formas diferentes de representatividade e atuação.
C – O que este encontro representa para a luta da classe trabalhadora mundial e para a construção de um outro mundo?
Kjeld Jakobsen – Para mim o mais marcante do FSM, foi a quantidade de participantes que não têm militância cotidiana e tradicional em sindicatos, partidos ou outros, mas que se inscreveram no Fórum para participar, aprender, dar opinião, etc, o que demonstra que o conjunto da sociedade está no mínimo angustiada e preocupada com a presente situação e que se dispõem a contribuir para superá-la. Nós só vamos mudar o mundo pela vontade da maioria e portanto O FSM teve este mérito de ampliar o engajamento, criando um espaço saudável, agradável, para cima, sem o ranço que muitas vezes norteiam nossas atividades. O FSM foi também representativo internacionalmente pelo número de países que compareceram e pela natureza das entidades presentes.
C – Quais os próximos passos?
Kjeld Jakobsen – Atividades de luta para as quais uma centena de entidades, incluindo a CUT, está convocando. Mobilizações contra a Alca em Buenos Aires em 6 e 7 de abril e em Quebec de 17 a 21 do mesmo mês. Ainda queremos marcar presença na reunião do FMI em Washington, em setembro e na reunião da OMC em novembro. A seguir é jogar peso no Porto Alegre II em janeiro de 2002, onde seguramente faremos um evento ainda maior.
“Um outro mundo onde as pessoas
e seus direitos e interesses venham
em primeiro lugar.
Onde as pessoas possam
se expressar livremente.
Onde não falte o mínimo
para as pessoas viverem.
Onde as crianças possam brincar
e estudar sem terem que trabalhar”.