[Por Claudia Santiago] Com certeza este será um dos focos do debate que vai ser realizado no dia 8 de outubro com o tema “Políticas Públicas, direitos humanos e violência”, às 19h, na Faculdade de Educação da Baixada Fluminense da UERJ – Rua General Manoel Rabelo, s/nº, Vila São Luís – Duque de Caxias. Provavelmente voltará à tona no dia 22, em outro debate, no mesmo horário e local, com o assunto “O que é periferia urbana”.  

É que o filme, que antes de entrar em cartaz, aqui no Rio, já circulava nas favelas e na zonal sul, em cópias piratas compradas por R$ 5,00 no Centro da Cidade, faz apologia do Bope (Batalhão de Operação Especiais da PM). Seus membros são mostrados como heróis incorruptíveis dispostos a combater o crime a qualquer custo, mesmo que este custo, seja “esculachar moradores”, condenar sem julgamento, torturar crianças e companheiras de traficantes para obter informações e matar.  

Tropa de Elite apresenta o que acontece no Rio de Janeiro como guerra e compara os soldados do Bope, mais bem treinados dos que os de Israel, segundo narra Vagner Moura no filme, com o “exército” do tráfico, composto, sim, por comerciantes dispostos a tudo para defender seus lucros; mas também por meninos que mal saíram dos seus cueiros e dos braços de suas desesperadas mães. Mães que os perdem para o tráfico e para as balas da Polícia.  

De acordo com o ponto de vista do filme, que é o mesmo do Bope, a única saída é aumentar a violência tanto nas favelas quanto contra a juventude que gosta de fumar maconha. Para eles, assim como declarou recentemente na televisão um deputado estadual do Rio de Janeiro, cujo sobrenome é Bolsonaro, os culpados por tudo são os “maconheiros”.  

Valha-me Deus, quanto ignorância ou ma fé. E os grandes traficantes, aqueles que não moram em favelas e não perdem seus filhos para as balas da polícia? Não, estes são intocados no filme. Sobra para o menino que estuda direito na PUC e trafica para sustentar a sua dependência química  em cocaína. E sobra para a favela, como se nela estivesse a ponta do crime. 

Mas é ainda prejudicial o filme também por outros aspectos. Desqualifica o trabalho de tantos jovens sonhadores que encontram na militância em ONGs um motivo para tentar consertar o mundo. Descontextualizado, passa-se a idéia de que são descabeçados, de que não sabem o que fazer e “são amigos de traficantes”. “Só rico com conversa social não entende que guerra é guerra”, ataca ressentidamente um dos protagonistas contra o trabalho social desenvolvido por gente quer ser algo mais na vida do que filho da burguesia. O mundo das ONGs e seus objetivos políticos e suas práticas são muito mais complexas do que tenta fazer crer Tropa de Elite. Basta lembrar um outro filme Quanto Vale ou é por quilo?. 

Na minha modesta opinião, como jornalista e não como especialista do assunto, o filme é um des-serviço à humanidade. Justifica a violência contra os moradores da favela, é um hino contra os direitos humanos e seus militantes e a favor da violência contra os indivíduos. Em suma, justifica a barbárie. Senti nojo. Não indico a ninguém. Não percam tempo com isso.  

Leia, em nossa pagina, na seção cinema, o artigo “Tropa DA elite ou Matou na favela e foi ao cinema”, de Adriana Facina, Mardônio e Claudia Trindade.