No dia da abertura da II Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, em Porto Alegre, a cobertura da mídia oscilou entre o silêncio e a crítica. Na capital gaúcha, o jornal “Zero Hora” destacou na manchete a ocupação da Fazenda Coqueiros pelo MST, dedicando algumas poucas linhas à abertura da conferência. O “Correio do Povo” publicou uma matéria interna destacando as críticas da Via Campesina e do MST à representatividade e à agenda do encontro.

Já a “Folha de São Paulo” afirma em sua manchete: “Invasões e mortes no campo crescem nos 3 anos de Lula”. Citando números da Ouvidoria Agrária Nacional, a “Folha” diz que “o número de invasões de terra nos três primeiros anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva superou em 55% o registrado nos 36 últimos meses da gestão Fernando Henrique Cardoso”. “Segundo a Ouvidoria Agrária Nacional, foram 770 invasões no país entre janeiro de 2003 e dezembro de 2005”, acrescenta o jornal paulista, que não dedicou nenhuma linha sobre a abertura da conferência.

E o “Estado de São Paulo” destaca também como manchete de sua edição de segunda-feira: “MST abre o 2006 vermelho”. “Foram 15 invasões no fim de semana; movimento ameaça até com greve de fome”, diz o “Estadão” na capa. Na mesma linha, o jornal “O Globo” afirma: “Em um só dia, MST invade 15 propriedades”. A abertura da conferência de Porto Alegre também não mereceu destaque no jornal carioca.

A matéria do “Estadão” já profetiza o fracasso da conferência, mesmo antes dela começar, acusando o ministro Miguel Rossetto de exploração eleitoral. “Evento da FAO vira pré-campanha de Rossetto no Sul”, diz o texto assinado por Roldão Arruda. A matéria afirma: “O fiasco ronda a 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, que começa hoje, em Porto Alegre, patrocinada pela FAO, com recursos do governo brasileiro. Do total de 188 países esperados, até ontem só 81 tinham confirmado participação. O presidente Lula, a figura mais anunciada no material de divulgação, não vai participar da cerimônia de abertura”.

E acrescenta: “Os problemas de organização aumentaram as suspeitas de que a conferência teria sido organizada para servir como coroamento da atuação de Rossetto à frente do MDA e de antecipação da campanha eleitoral. Filiado ao PT, ele está se desligando neste mês do governo para concorrer a uma vaga no Senado, pelo Rio Grande do Sul”. A matéria do “Estadão”, assim como as dos outros veículos que mencionaram a abertura da conferência, não faz nenhuma referência sobre o conteúdo e a agenda temática da mesma.

(Por Marco Aurélio Weissheimer – Carta Maior)