Por Sheila Jacob

Após a concentração na Cinelândia, os manifestantes fizeram uma passeata pacífica pela Avenida Rio Branco. Em frente ao Consulado dos Estados Unidos, alguns sapatos foram atirados na bandeira estadunidense, para mostrar o repúdio ao apoio a Israel, à criminalização constante do povo árabe e ao massacre que está sendo cometido contra os palestinos.


O ato foi organizado pelo Comitê de Solidariedade à Luta do Povo Palestino, em conjunto com uma série de movimentos sociais. Jorge
Hadge, da Comunidade Árabe, lembrou que faz 60 anos que o povo árabe sofre um massacre protagonizado por Israel. Ele afirmou que a situação só se mantém porque existe apoio por parte dos Estados Unidos e de aliados na Europa. Ele lembrou que, em 2006, o Líbano foi atacado por Israel durante 35 dias. Hospitais, usinas e colégios foram destruídos na ocasião.

 

Grande mídia é apontada como responsável por vitimizar Israel

Apesar da disparidade de forças, a grande mídia vem tentando mostrar Israel como vítima. Enquanto isso, os números contradizem essa idéia: no dia da passeata, eram 773 pessoas assassinadas do lado da Palestina, contra pouco mais de dez do lado de Israel.

Paulo Alentejano, professor do Departamento de Geografia da UERJ, considera claramente enviesada a cobertura da grande mídia dos conflitos no Oriente Médio. Ele lembrou que os grandes meios de comunicação brasileiros estão ligados economicamente aos Estados Unidos e à comunidade judaica. “Por esse motivo, eles reproduzem a criminalização dos movimentos árabes. Isso leva à formação de uma opinião pública que legitima o direito de Israel se defender dos ataques em seu territorio”.

Em relação à mídia alternativa, Alentejano considera que ainda são poucas as vozes que se levantam contra o bombardeio dos grandes jornais. Para ele, inclusive é complicado trabalhar essas questões em sala de aula. “Procuro usar o Brasil de Fato para fazer um contraponto à grande mídia, porque os alunos já chegam à sala de aula contaminados pelo que vêem na televisão”.

O professor avalia que essa situação também se dá porque muitas informações chegam ao Brasil por meio das agências de notícia. “É claro que é uma opção ideológica muito clara se alimentar de certas agências que produzem conteúdos pró-Israel. Não reproduzem, por exemplo, as imagens divulgadas pela TV Al Jazeera”, esclarece.

O jornalista Mario Augusto Jakobskind também afirma que a grande mídia manipula as informações. Para ele, um dos principais erros é não contextualizar o fato. “Isso gera um apoio ao genocídio cometido por Israel, por não mostrar as informações que deveriam”.

Ele fala sobre a falta de referências sobre o próprio local do conflito, conhecido por Faixa de Gaza. “É um corredor pequeno, menor do que Porto Alegre, onde moram 1,5 milhão de palestinos”. Para ele, não podemos encarar os crimes contra a humanidade de forma apaixonada. “O que está havendo é que Israel está fazendo terrorismo de Estado. O outro grupo acaba respondendo a violência com violência”. Para ele, veículos como o jornal O Globo, as revistas Veja e Época praticam a “deformação da informação”.

Na manifestação realizada no Centro do Rio, foi lembrado às pessoas e movimentos presentes que é preciso dar continuidade ao apoio à causa palestina. Muitos lembraram que é urgente desmascarar a grande mídia, que “mente ao povo brasileiro, culpando unicamente ao Hamas pelos ataques sionistas na região”, como afirmou Stela Santos, do Comitê de Solidariedade à Luta do Povo Palestino.