A comunicação dos trabalhadores como ferramenta de disputa ideológica também foi tema de um debate promovido pela CUT no Fórum Social Mundial. Participaram da discussão o jornalista Beto Almeida, correspondente da Telesul; o cubano Ovídio Cabrera, diretor-geral da Telesul; o cientista político Emir Sader e Rosane Bertotti, secretária nacional de comunicação da Central.
Beto Almeida lembrou que o tema da comunicação é essencial para transformar a sociedade: “temos que discutir os campos públicos da mídia: TVs educativas, comunitárias e legislativas, já que a maioria dos canais tem contribuído para o embrutecimento das relações humanas em um modelo verticalizado e injusto”. Ele lembrou que atualmente existe um desequilíbrio enorme entre a mídia dos trabalhadores, de circulação pequena, e a empresarial.
Normalmente a mídia comercial ignora alguns temas essenciais da América Latina, como a erradicação do analfabetismo na Bolívia e a associação entre Cuba e Venezuela para cirurgia de cataratas, entre outros fatos lembrados pelo jornalista. “Essas medidas não são anunciadas, mas quando tem algum desfile em Londres ou lançamento de perfume em Paris, logo é divulgado”.
Telesul como exemplo de mídia a favor da integração
Para Beto Almeida, a Telesul é uma das possíveis ferramentas de integração do continente. Para ele é necessário ainda o fortalecimento de todas as mídias do campo público – e todas que consigam escapar da ditadura da propaganda. “A grande mídia tem tratado o FSM como algo sem importância, uma espécie de Woodstock. Na verdade, o Fórum tem anunciado desde 2001 o fracasso do modelo neoliberal, exatamente o que estamos vendo hoje”, afirmou.
Ovídio Cabrera fez uma breve apresentação da Telesul, criada a partir da urgência de integração latino-americana e da informação. Ele explicou que é uma rede de TV multi-estatal, conta com 12 correspondentes da América Latina, e tem como lema “Nosso Norte é o Sul”. Foi criada em 24 de julho de 2005, aniversário do nascimento de Simon Bolívar – símbolo da luta latino-americana contra a dominação européia.
“Procuramos estar sempre ao lado dos trabalhadores, camponeses e suas lutas, dos palestinos massacrados por Israel, dos cinco cubanos presos injustamente nos Estados Unidos, do MST, etc. Para conhecer a América Latina, todos os brasileiros têm que se informar pela Telesul, no endereço: www.telesurtv.net”.
A ausência dos temas latino-americanos na TV brasileira também foi lembrada pelo cientista político Emir Sader. Ele definiu a comunicação como o terceiro grande tema a ser discutido no mundo de hoje, além das guerras e da concentração de riquezas. Para ele, o poder ideológico se afirma a partir das imagens divulgadas por telenovelas e Hollywood. “As classes dominantes têm o monopólio do sistema de comunicação, e por isso impõem o que é de seu interesse”.
Sader disse ainda que, apesar da decadência dos Estados Unidos, não vê o enfraquecimento do american way of life. “A vida cotidiana é pautada pela direita. Nã
o falam apenas como pensar, mas sim o que é mais ou menos importante. No Brasil, são cinco famílias que mandam, e se mantêm donas das concessões de maneira anti-democrática”.
Para Sader, assim como para Beto Almeida, a TV pública tem que investir não apenas no noticiário, mas também – e principalmente, no entretenimento. “A Telesul é claramente melhor do que as outras emissoras, mas a comunicação não é só noticiário. Vamos fazer novelas a partir da literatura brasileira, por exemplo”.
Por fim, o cientista político defendeu uma mídia que trate dos problemas do povo brasileiro, como as dificuldades dos trabalhadores, a exploração da mão-de-obra, a precariedade do trabalho informal e o desemprego.
Para finalizar a mesa, Rosane Bertotti, da CUT, lembrou os vários movimentos pela democratização que vinham pressionando o governo para a realização de uma Conferência Nacional de Comunicação. “O anúncio da conferência é uma conquista nossa, mas temos que nos organizar desde já para construir as propostas de políticas públicas que queremos para o setor. Por isso é muito importante que os diversos movimentos e organizações façam parte dessa discussão”.
Ela também lembrou a cobertura do Fórum Social pelos grandes meios, dizendo que a presença dos presidentes Corrêa, Lugo, Morales, Chávez e Lula é um importante passo para a integração. “Um novo mundo é possível, é necessário e é urgente. Mas esse mundo só será possível se alterarmos a estrutura dos meios de comunicação no Brasil”, finalizou Rosane Bertotti.