Itapema – Setenta sindicalistas e trabalhadores da base dos Sindicatos filiados a Fetiesc (Federação dos Trabalhadores das Indústrias de Santa Catarina) participaram do Curso de Comunicação Sindical ministrado pelo escritor Vito Giannotti, dia 23 de setembro, na Escola de Formação, em Meia Praia. A importância da comunicação nas relações entre o sindicato e os trabalhadores e como melhorar essa comunicação foi amplamente debatida, incluindo a análise do comportamento da mídia diante das questões que envolvem os movimentos populares, luta de classes e outras que envolvem os menos favorecidos. “Em casos de greve, a imprensa divulga apenas os contratempos gerados pela paralisação, condenando a greve e os grevistas”, exemplifica. Na avaliação de Giannotti, a imprensa oficial ignora, não por acaso, as lutas dos trabalhadores e atua essencialmente a serviço do poder econômico.

Exigir a democratização da comunicação e criar mídias específicas para o trabalhador são ações necessárias para que ocorra uma comunicação verdadeira e honesta entre o sindicato e categoria de trabalhadores. Para se chegar a esse modelo desejado de comunicação sindical, Giannotti aconselha a ler mais. “Precisamos achar um jeito de fazer a cabeça e entrar nos corações dos trabalhadores”, ensina o escritor. A utilização das rádios comunitárias e até mesmo das rádios e canais de televisão comerciais devem ser válidas. “Os canais de TV e emissoras de Rádio são concessões públicas e por isso deveriam dar espaço para toda a sociedade. É preciso democratizar os meios de comunicação. O povo deve se apropriar dos instrumentos de comunicação”, reafirma, citando como exemplo da não democratização da comunicação o fato de o senador José Sarney ser dono de 47 emissoras de Rádio no Maranhão. Em Santa Catarina, a RBS tornou-se um conglomerado que detém o monopólio da comunicação.

A mídia não é neutra

O escritor Vito Giannotti afirma que a mídia não é neutra e não é mais o quarto poder. “Agora, não há poder sem mídia”, afirma Giannotti, amparado no comportamento da imprensa diante dos acontecimentos e fatos e do modo como são veiculados. “Toda a mídia do mundo repete notícias enviadas por duas ou três agências norte-americanas porque o poder da mídia exige que haja consenso”, explica, e cita como exemplo o fato de terem sido mortos 1.200 mil iraquianos quando da invasão americana ao Iraque, sem que isso fosse noticiado. “A mídia tem dono e defende uma classe social, que é a dele. A mídia mente, disfarça e criminaliza os movimentos sociais”, resume Vito Giannotti.

Como melhorar a comunicação

A criação de uma mídia que seja “nossa” e a apropriação da mídia já existente através da exigência de democratização da comunicação são tarefas árduas, mas necessárias quando se quer melhorar a comunicação entre o sindicato e os trabalhadores. Para tanto, é necessário preparar os agentes envolvidos nesse processo através de muita leitura, discussões e debates sobre os acontecimentos e análise do comportamento da mídia diante dos fatos políticos, econômicos e sociais, como o desmantelamento da escola pública e de outros serviços essenciais, como saúde e transporte que deveriam ser de responsabilidade do Estado e que estão nas mãos da iniciativa privada, onerando o trabalhador e enfraquecendo o poder público.

Giannotti enfatiza que os trabalhadores devem buscar quebrar a hegemonia da imprensa oficial criando mecanismos eficientes, citando a abordagem de assuntos de interesse verdadeiro da categoria, mesmo que sejam assuntos internacionais. Temas como educação, saúde e meio ambiente podem e devem ser abordados de forma despretensiosa e em diferentes formatos, como jornal, boletim eletrônico, informativos, programas de rádio e vídeos.

Sindicalistas entusiasmados

Os dirigentes sindicais que participaram do curso ficaram entusiasmados e animados com a perspectiva de iniciarem uma nova era no que se refere à comunicação com os trabalhadores da base. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Químicos de Joinville, Geraldo Lopes, salientou que o curso serviu para mostrar que o Sindicato está no caminho certo em promover uma comunicação mais eficiente com a base. “A comunicação é importante e estamos trabalhando nesse sentido”, afirma o sindicalista de Joinville. O presidente da Fetiesc, Idemar Antônio Martini deixou claro que um sindicalismo forte e atuante depende do tipo de comunicação que é feita com a base e com a sociedade. A Fetiesc congrega 41 sindicatos em todo o Estado de Santa Catarina e representa 160 mil trabalhadores.